Calendário 2019

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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Hitler por ele mesmo - parte 8

O ano de 1923 foi dramático e decisivo para a Alemanha e para Adolf Hitler.  A inflação e a crise econômica, já em fase muito avançada, trouxeram ao bloco as negociações para o pagamento das indenizações de guerra aos aliados ocidentais: assim a França, a título de ressarcimento, procede em 11 de janeiro à ocupação armada do Ruhr, o coração industrial da Alemanha.  A essa ação o governo alemão responde com uma campanha de resistência passiva, e em breve uma verdadeira e própria guerrilha cresce entre os dois países, com greves e atos de sabotagem, de um lado, detenções e deportações em massa, de outro.  Nesse momento, a crise econômica precipita-se, a inflação monetária torna-se galopante: o marco, que no fim da guerra tinha uma relação de 4 para 1 com o dólar, no início de 1923 já havia descido ao nível de 7.000 para 1; em primeiro de novembro um dólar custa a cifra exorbitante de 130 bilhões de marcos.  Para Hitler esse é o momento de agir.  Ficou impressionado com o sucesso da marcha sobre Roma de Mussolini (outubro de 1922) e já há meses projeta organizar uma marcha análoga sobre Berlim para depor o governo dos " traidores de novembro ".  Planos desse tipo não são novos em Munique, que se tornou havia alguns anos o centro de concentração dos nacionalistas anti-republicanos de todas as tendências.  O próprio governo da Baviera está nas mãos de um homem de direita, Gustav von Kahr, que não esconde suas simpatias pela volta dos Wittelsbach ao trono.  No início de fevereiro formou-se em Munique um primeiro acordo entre os movimentos de direita; em primeiro de maio cerca de 20 mil nazistas armados reúnem-se na Oberwiesenfeld, a praça de armas, para contrastar com um golpe de força as manifestações dos trabalhadores socialistas, mas a presença maciça do exército previne qualquer tentativa de criar desordens.  Em 2 de setembro finalmente, em Nuremberg, cem mil nacionalistas celebram o " dia alemão ": ao lado de Hitler aparece o respeitado general Ludendorff, o herói da grande guerra, e funda-se uma nova liga, o Deutscher Kampfbund, com o propósito declarado de derrubar a República.  Na Turíngia e na Saxônia, entretanto, os comunistas conseguiram participar do governo com os socialistas, enquanto na Prússia as forças nacionalistas  do exército (Reichswehr Negra) preparam, por sua vez, um golpe de Estado.  Nesse momento, o governo baseado no artigo 48 da Constituição de Weimar, proclama o estado de emergência, conferindo plenos poderes ao comandante supremo do exército, Hans von seeckt.  Em outubro, as autoridades militares restabelecem eficientemente a ordem: a conspiração prussiana é logo descoberta e seu inspirador condenado a dez anos de prisão; na Saxônia, a Reichswehr dissolve à força a milícia popular vermelha e prende todos os ministros comunistas.  Na Baviera, porém, a situação é mais complicada.  Juntamente com o monárquico von Kahr, também o comandante do exército, von Lossow, demonstra não reconhecer a autoridade do governo central; de sua parte, Hitler multiplica seus ataques abertos às instituições republicanas, procurando de todos os modos a aliança com as autoridades locais para o projetado golpe de Estado.  Mas von Kahr e von Lossow não têm nenhuma intenção de marchar sobre Berlim; querem, ao contrário, formar um governo local, que separe a Baviera do Reich.  A conspiração tem, portanto, dois coloridos contrários: o " Auf nach Berlim " (para Berlim!) de Hitler, e o " Los von Berlim " (fora de Berlim) dos outros.  Hitler decide atropelar os acontecimentos.  Na noite de 8 de novembro, na Burgerbraukeller, realiza-se um comício concorridíssimo, do qual participam todos os principais expoentes políticos de Munique.  Em dado momento, durante a fala de von Kahr, os homens das SA irrompem na sala e instalam as metralhadoras diante.  Com a pistola em punho, Hitler adianta-se até a tribuna e, após ter disparado dois tiros para o ar, anuncia que suas tropas ocuparam a cidade; depois sequestra em uma saleta adjacente von Kahr, von Lossow e von Seisser, o chefe da polícia, e com eles procura encontrar um acordo para continuar a ação.  Mas os três não cedem, e Hitler encontra, então, a saída vitoriosa: volta à tribuna e anuncia triunfalmente a formação de um novo governo do Reich, presidido por ele e com Ludendorff e os três " reféns " em postos de alta responsabilidade.  A sala explode de entusiasmo.  Chega também Ludendorff, e o acordo parece consagrado.  Mas os homens de Hitler não controlam em absoluto a cidade.  Só Rohm e a sua tropa ocupam a sede do comando supremo do exército; assim, quando von Kahr e os outros deixam a cervejaria, podem facilmente tomar todas as medidas necessárias para bloquear esse Putsch com Hitler, que não querem apoiar.  o governo de Berlim é imediatamente avisado da situação, e durante a noite novas tropas são concentradas ao redor de Munique e nos pontos estratégicos da cidade.  Em 9 de novembro a tentativa de golpe de Estado já fracassou.  A última cartada dos nazistas é o grande cortejo armado em direção da Odeon Platz, com Ludendorff na primeira fila; certamente ninguém ousará atirar contra o herói nacional; sem dúvida, os oficiais e os soldados lhe farão continência, prontos a segui-lo até Berlim.  Mas isso não acontece.  Na estreita Residenzstrasse, um cordão policial ordena o cortejo a parar; e, em seguida, não sendo obedecido, abre fogo: a ação dura menos de um minuto, mas é suficiente para ferir mortalmente 19 pessoas (entre as quais três policiais) e para dispersar completamente as tropas nazistas.  Muitos foram presos no lugar; Hitler consegue fugir, mas é preso dois dias depois na casa do amigo Hanfstangl.  O processo para o Putsch de Munique começa em 26 de fevereiro de 1924 e dura vinte e quatro dias.  Acusados de alta traição sentam-se no banco dos réus, além de Hitler, Ludendorff, Rohm e outros sete personagens menores, von Kahr, von Lossow e von Seisser figuram entre as testemunhas da acusação.  O clima está mais sereno em toda a Alemanha, que está saindo da crise econômica e institucional.  É a grande oportunidade de Adolf Hitler político: derrotado em praça pública, pode agora falar diante de jornalistas alemães e de todo o mundo, que compareceram numerosos ao processo.  E Hitler vence, mesmo se a corte o condena a 5 anos de prisão numa fortaleza.  Hitler defendera, no processo, o seu conceito nazista de uma raça dominante, que teria direito à expansão no espaço vital correspondente, de acordo com a geopolítica de Carlos Haushofer.   A fortaleza de Landsburg, para Hitler e outros quarenta companheiros reclusos, mais do que uma prisão é um hotel de boa categoria: janelas com grades, mais amplas, portas abertas, uma sala de reunião e muitas horas de passeio no jardim.  Assim Hitler lê, engorda, fala à sua corte de visitantes, concede entrevistas aos jornais; e começa a ditar seu credo político, Mein Kampf (Minha Luta).  Lá fora, nesse ínterim, depois da proscrição do Partido Nazista, os vários expoentes do movimento se dispersaram: Ludendorff e Strasser entraram em acordo com os nacionalistas do Norte, e nas eleições da primavera, em 1924, seu movimento unitário conseguiu obter cerca de dois milhões de votos e 32 cadeiras no Reichstag; Streicher e Esser, mantendo-se mais próximos das ideias do chefe, fundaram um novo partido,  a União Popular da Grande Alemanha; Rohm, finalmente, fundou uma organização análoga às SA, o Frontbann.  Mas o único resultado de todas essas ações __ conduzidas pelos vários dirigentes nazistas em um clima de viva rivalidade recíproca __ foi a quase dissolução do partido.  Desse modo Hitler, voltando à liberdade __ condicional __ na véspera do natal de 1924, encontra-se diante de dois grandes problemas: a estruturação do movimento sob sua autoridade e a reconquista de uma nova credibilidade política depois do malogro de novembro.  O primeiro passo é obter a revogação da ordem de dissolução do partido, o que ocorre após uma entrevista com o primeiro ministro bávaro Held em 4 de janeiro de 1925.  Poucas semanas depois, em 27 de fevereiro, Hitler reúne, na Burgerbraukeller, os quatro mil fiéis remanescentes e com um inflamado discurso convence-os a retomar a luta política interrompida: bastaram duas horas, e o movimento já voltou  inteiramente às suas mãos.  nesse momento Hitler prepara-se para relançar o Partido Nazista nacionalmente.  Mas a situação alemã de 1925 é muito diferente da de dois anos antes.  A terrível inflação de 1923 foi bloqueada no verão do ano seguinte com as medidas financeiras sugeridas pelo diretor do Banco Central, Hjalmar Schacht, e graças às iniciativas diplomáticas do ministro do Exterior, Gustav Stresemann.  Novo clima de distensão estabeleceu-se nas relações internacionais com o acordo sobre o plano Dawes para as indenizações (abril de 1924), enquanto no interior do país já conspícuo afluxo de capitais dos Estados Unidos e da Inglaterra deu início à recuperação econômica.  O retorno da confiança encontrou expressão nas eleições para o Reichstag (o parlamento) em dezembro de 1924, assinalando o fortalecimento do centro e a crise dos partidos extremistas (a frente de Ludendorff e Strasser desceu, de fato, de 32 para 14 cadeiras, o Partido Comunista, de 62 para 45 cadeiras ).  A nova situação convence Hitler a adotar uma estratégia diferente para chegar ao poder: não mais a revolução armada contra as instituições do Estado, e com a oposição, portanto, do Exército, mas a conquista legal do Estado com os meios constitucionais (eleições, governo) e possivelmente com o apoio do exército.  Todavia, mesmo mostrando-se com uma aparência tão modesta, o movimento nazista não consegue encontrar um lugar na política.

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