Calendário 2019

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Vou por onde a arte me levar.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Arte erótica: A arte erótica, vintage e satânica do século 19.





Esse diabo tem nais a ver com a imagem mitológica grega do sátiro exalando uma exuberância lasciva.   " Felizmente, o erotismo infernal da " diabruras " ainda está vivo, graças a indivíduos como Robert Stewart. "

Parte 4 - Gestapo e Adolf Hitler -.final



Organograma do terror: como funcionava a política secreta.  RSHA __ Em  1939, é criado o Escritório Central de Segurança do Reich, que unifica a burocracia policial nazista.  Ele se dividia em sete escritórios, entre eles o Serviço de Segurança (SD), o Ausland SD, sua réplica com espiões no exterior e a Polícia Criminal (Kripo).  A Gestapo era o escritório 4, com seis departamentos.  Em 1944, a polícia secreta tinha 32 mil integrantes.  O comando da RSHA se confundia com o da SS.  Era comum que a Gestapo colaborasse e ao mesmo tempo competisse com as demais polícias.   Mãos de Ferro: Comandantes dos departamentos.  Eram jovens de classe média, com alta formação acadêmica (em sua maioria advogados), convertidos ao nacional-socialismo após a ascensão de Hitler, em 1933.  Oficiais: Remanescentes das polícias do império, alguns eram ex-membros da SA.   Chefes dos serviços judeus: Veteranos na polícia selecionados entre os capazes de despertar confiança nas vítimas.  Colaboradores: Eram classificados pela burocracia interna como Pessoas G (eventuais e voluntários, a maioria) e Pessoas V (permanentes e pagos).   Junto com a Polícia Criminal (Kripo), a Gestapo formava a Sipo (Sicherheitspolizei), ou a Polícia de Segurança.  Foram elas que fizeram a maior parte do trabalho sujo contra os judeus.   Motivos Banais: Cidadãos comuns foram essenciais como colaboradores da Gestapo; motivo: disputa de vizinhos, discussão de ex-amantes, convicção política, motivos econômicos, outros motivos e desconhecido.   Heinrich Muller: iniciou-se a carreira policial combatendo comunistas em Munique.  Em 1939, tornou-se chefe da Gestapo. Respondia a Heydrich, e este a Himmier.  Desapareceu em 1945.  Heinrich Himmler: só era menos poderoso que Hitler.  Comandava a SS e todas as polícias.  Idealizou o Holocausto, traiu Fuhrer, foi preso e suicidou-se em 1945.  Hermann Goring: criador da Gestapo, liderou a Luftwaffe, entre os altos cargos que ocupou no Reich.  Condenado à morte em Nuremberg, suicidou-se antes com veneno, em 1946.    Figurões: Esses sujeitos  foram decisivos para os rumos da Gestapo, Muller foi promovido quando Reinhard Heydrich assumiu a RSHA.  Himmler, racista convicto, planejou a Solução Final com Heydrich.  Goring inaugurou a escalada de terror como o "pai" da polícia secreta.  Métodos de Tortura e Execução: sobreviventes relataram que os agentes queimavam, afogavam e davam choque nas vítimas interrogadas.   Também as mantinham em água gelada durante horas, entre outras formas de suplício.  Grupos especiais da Gestapo integraram esquadrões da morte que atuavam nos países ocupados durante a guerra.  Judeus e outros adversários do regime eram enviados aos campos de concentração e extermínio da SS, equipados com câmaras de gás e fornos crematórios.  

Parte 3 - Gestapo e Adolf Hitler.



" Já  não para dizer que a Gestapo estava em toda parte e o poder do estado era total.   Também não dá para dividir  os alemães em dois polos opostos: o dos seguidores cegos de Hitler e o das vítimas ou combatentes da resistência. ", diz Johnson, relativizando a gigantesca dimensão atribuída à instituição por pesquisadores no pós-guerra.   Em Krefeld, por exemplo, com 170 mil habitantes, a polícia secreta tinha apenas 13 oficiais (um para cada 13 mil habitantes).  No total, a Gestapo contava com 32 mil integrantes em 1944.   Para ter uma ideia, as SA tinham 2,9 milhões, dez anos antes.  Com a equipe restrita, como a instituição conseguiu criar nas pessoas a percepção de que eram vigiadas o tempo todo (pergunta).   Eis a colaboração do " alemão comum ".   Qualquer um era tomado de pânico só de receber a carta timbrada convocando para " responder perguntas ".  Mas o ponto é: sem a ajuda dos vizinhos e companhia, a Gestapo não teria a mesma eficiência.   Entre 1933 e 1939, 41% dos processos contra judeus em Krefeld foram iniciados por denúncias de civis.  Em outras cidades, não foi diferente.  Alguns fofoqueiros chegaram a integrar uma " rede de espionagem " da instituição.   Ninguém sabe ao certo seu tamanho.   Em Nuremberg (2,7 milhões de habitantes, em 1941), havia 80 informantes para os 150 funcionários.   Vários colaboradores eram antissemitas, e outros, indiferentes - mas, em geral, receptivos à propaganda nazista.   E disposto a dedurar pelo bem do país ou resolver desavenças pessoais, até rixas com ex-amante.   Uma cliente insatisfeita, da cidade de Mitelberg, denunciou Ludwig Hell por vender aguardente a uma judia em seu armazém, em novembro de 1941.  Depois de passar pela loja de manhã, Helen Pfaff voltou à tarde para comprar uma cola extra de " produtos escassos ", Hell recusou-se a atendê-la, mas serviu, sem cerimônia, a freguesa seguinte, uma judia.   Pfaff reclamou à Gestapo.   O comerciante teve de jurar que nunca mais faria algo parecido e permaneceu sob vigilância.   Já o doutor Kneisel declarou que se sentia obrigado a denunciar Ilse Sonja Totzke por seu " dever como oficial da reserva ".   " Á medida que o regime se tornava mais totalitário, sobretudo durante a guerra, aí sim a Gestapo infundiu muito medo e adquiriu cada vez mais poderes para apertar os mecanismos de controle.   Dessa forma, o que era permissível em 1935 terminava com prisão ou morte em 1943, afirma o historiador Andrés Reggiani, da Universidade Torcuato Di Tella.   " Não esperamos ser amados por muitos ", dizia Himmler.   Bastava o conformismo dos cidadãos.  " O que o regime precisava era estabelecer a linha oficial, obter a cooperação e atuar sem descanso com base na informação recebida ", afirma Gellately.   Foi o que a Gestapo fez, sem que quase ninguém na Alemanha reclamasse da matança de 6 milhões de judeus, além de gays, ciganos e outras minorias.  Em 1946, o Tribunal de Nuremberg julgou os 22 criminosos de guerra mais importantes da Alemanha.   Doze foram condenados à morte.   A Gestapo foi definida como uma organização criminosa e a corte resolveu que os responsáveis pagariam por seus crimes.   Mas vários manda-chuvas menos conhecidos, como Richard Schulenburg, puderam reorganizar sua vida normalmente.   Aos 68 anos, o ex-chefe de assuntos judaicos em Krefeld pleiteou uma pensão do Estado.  Submeteu-se a um processo de " desnazificação ", em que teve de convencer um comitê da cidade sobre seu passado  impoluto.   Juntou referências de moradores e jurou ter cometido delito: " Eu tratava com humanismo todas as pessoas ".   Não conseguiu a pensão, mas seu advogado apelou, justificando que ele fora obrigado a integrar a Gestapo.  Deu certo: recebeu pensão até morrer, aos 82 anos, Karl Loffer, da polícia secreta de Colônia, também se reabilitou com cartas de apoio de líderes das Igrejas católica e protestante.  Diretor-geral do departamento dedicado aos judeus.  Adolf Eichmann fugiu para a Argentina, mas foi capturado por israelenses em 1960 e condenado à morte.  Diversos companheiros dele, contudo, continuaram gozando a boa vida na América do Sul - sabe-se lá onde mais.    Saiba mais: Livros: Gestapo and German Society, Robert Gellately, Oxford University Press, Oxford, 1990.   O papel de alemães comuns como força da polícia.  Sem edição no país.  E será lançado em breve, Apoiando Hitler.   Nazi Terror, Eric A. Johnson, Perseus Books, 2002.  Rica em arquivos da Gestapo, oferece uma análise dos motivos que levaram civis a cooperar na caça aos judeus.  História da Gestapo, Jacques Delarue, Record, 1962.  O autor participou da resistência francesa e acompanhou alguns processos contra os nazistas.  

Parte 2 - Gestapo e Adolf Hitler.



Chefões da Gestapo e da cúpula nazista dominaram a Interpol.   A Organização Internacional de Polícia Criminal , a Interpol, foi criada na Áustria, em 1923, para promover a cooperação entre as polícias do mundo.  Para a Gestapo, o intercâmbio significava uma bela chance de aprimorar as técnicas de investigação.   Não foi à toa que vários nazistas fizeram carreira na organização.   Um deles foi o general da SS Kurt Daluege, eleito vice-presidente da Interpol em 1937.  Reinhard Heydrich, um dos primeiros líderes da Gestapo, chefe da RSHA (que englobava as polícias do Reich, inclusive a secreta ) e arquiteto do Holocausto, ocupou a presidência da organização entre 1940  e 1942.  " Sob a nova liderança alemã, a Interpol vai ser o centro da polícia criminal ", anunciou ele à época.   A sede nacional da Interpol ficava numa mansão em Wannsee, subúrbio de Berlim.  Foi ali que a cúpula nazista realizou uma conferência, em 20 de janeiro de 1942, para planejar a chamada Solução Final contra os judeus.   Heydrich morreu meses depois, vítima de um atentado em Praga, mas o Reich não perdeu a liderança da organização por muito tempo.  Ernst Kaltenbrunner (sucessor de Heydrich na RSHA ) tornou-se presidente em 1943 - e continuou no cargo até o fim da Segunda Guerra.   Agentes monitoravam um dos mais luxuosos bordéis de Berlim.  Segredos de alcova também alimentaram a rede de informações do Reich.   Uma parceria entre Gestapo e o SD (o Serviço de Segurança do partido nazista ) transformou um badalado bordel de Berlim em centro de vigilância.   O Salão Kitty tinha escutas nos quartos e prostitutas treinadas para tirar confidências de clientes  como diplomatas do exterior e oficiais nazistas.   A ideia de Reinhard Heydrich era identificar possíveis traidores.   O bordel foi operado pelo SD entre 1940 e 1942 e inspirou o filme Salão Kitty (1976), de Tinto Brass.   Mulheres ambiciosas não só espionavam mas também tiravam vantagem de seu relacionamento  com os barões da Gestapo, como a atriz russa Mara Tchernycheff,    Protegida por Henri Chamberlain, chefe da polícia secreta na França ocupada, ela faturou alto contrabandeando bens de judeus deportados.   Ela é uma das " condessas da Gestapo ", citadas no livro homônimo de Cyril Eder, sem edição no Brasil.   Werner von Blomberg e Werner von Fritsch, em 1938, eles renunciaram aos mais altos cargos das Forças Armadas da Alemanha por causa de informações pessoais e boatos espalhados por agentes da Gestapo.   A mulher do primeiro posou para fotos pornográficas e o segundo foi acusado de ser homossexual.  A maioria desses agentes atuava atrás da escrivaninha, analisando denúncias.  Nas batidas em locais suspeitos, nas ruas, frequentemente andavam à paisana.   Mas, sob o comando de Himmler, que pretendia fundir toda a intricada estrutura policial alemã à SS, investigadores, espiões e detetives tornaram-se cada vez mais violentos.   Desde o início da Segunda Guerra, membros da Gestapo passaram a integrar, ao lado da tropa paramilitar, esquadrões da morte que seguiam o Exército nos países ocupados, eliminando quem bem quisessem - principalmente os judeus.   Himmler revelou-se um dos maiores carrascos da população judia ainda antes da guerra.   A perseguição começou com um boicote econômico às suas lojas, ordenado por Hitler, em 1933.   Dois anos depois, as Leis de Nuremberg cassaram a cidadania dos judeus e declararam ilegais os casamentos entre eles e pessoas de " sangue alemão ".   Qualquer contato passou a ser visto pelo regime como um crime em potencial.   E a polícia secreta mantinha-se atenta, para azar de Samuel Novak, entre tantos outros.   Em 1936, o judeu de 61 anos foi a um restaurante berlinense com a jovem ariana Augusta Hauser.   Um soldado avisou a Gestapo.   Interrogada, ela revelou que tinha um caso com o patrão havia dois anos.   Ambos foram presos e torturados.   Desesperado ao saber da confissão do amante, Novak enforcou-se na cela.   " A maioria dos alemães achou que as novas leis estabilizariam a situação do país ao relegar aos judeus uma esfera de segunda classe e que isso sanaria a violência das ruas.   Em geral, não pareciam se incomodar com a violência dos direitos  fundamentais ", diz o historiador Michael Burleigh no livro The Third Reich: A New History (O Terceiro Reich: Uma Nova História, inédito no Brasil).   " A oposição se limitava à burguesia liberal, alguns enclaves católicos e homens de negócios preocupados com as repercussões no exterior. "   A perseguição se intensificou para valer com a Noite dos Cristais, em 9 de novembro de 1938.   Uma onda de ira popular varreu a Alemanha em represália ao assassinato de um diplomata , em Paris, por um judeu polonês, revoltado com a perseguição a seu povo.  Os tumultos foram insuflados pelos escritórios locais da Gestapo.   Deixaram mais de 90 judeus mortos e centenas de feridos.   Cerca de 30 mil pessoas foram enviadas aos campos de concentração, administrados pela SS.   A partir daí, a polícia secreta só permitiu perseguições " metódicas e planejadas ", como dizia Goring.   Durante a guerra, o controle social foi radicalizado.   O regime de exceção podia considerar delito qualquer frase dita em público que pudesse ofender " a vontade do povo alemão ".  A Gestapo se tornara mais poderosa do que nunca.   Himmler conseguira unificar todas as forças policiais do país e submetê-las à SS com a criação do Escritório Central de Segurança do Reich (RSHA).   Em 1940, a polícia secreta foi liberada de cumprir o Decreto do Reichstag.   Ou seja, na prática, podia atuar como legislador, juiz, jurado e executor.   Assim, tornou-se a última instância responsável pelo destino dos judeus.  Comandante em Berlim, Reinhard Heydrich personificava o estereótipo dos oficiais da Gestapo: intrépido e impassível.   " Muitos também tinham uma personalidade insegura.  Heydrich vivia atormentado pela ideia de ter um antepassado judeu ", diz Eric A. Johnson em Nazi Terror.   Segundo ele, os chefes de assuntos judaicos eram selecionados entre os veteranos de aparência pouco ameaçadora - uma estratégia para fisgar suas vítimas.  " Além de refinar métodos tradicionais de tortura, terror e colaboração, a Gestapo agregou um ingrediente novo: ela operava juntamente com organizações extraterritoriais e internacionais, como a Ausland-SD (agência de inteligência no exterior com abrangência das Américas ao Japão), o corpo  diplomático alemão e departamentos policiais da Interpol, que ela ajudou a fundar, afirma o escritor Edwin Black, autor de Nazi Nexus.  

Parte 1 _ Gestapo e Adolf Hitler.


A Gestapo nasceu em 1933 para esmagar a oposição a Adolf Hitler e logo se transformou na peça central do terror nazista.  Com a ajuda de cidadãos comuns, a Gestapo vigiou, sequestrou, torturou e executou milhares de pessoas.   Fonte: Revista " Aventuras na História ", para viajar no tempo, por Eduardo Szklars   __ Em 1934, a estudante de música Ilse Sonja chamou a atenção dos moradores da pequena Wurtzburgo, na Alemanha.   Volta e meia, era vista conversando com judeus.   Graças a denúncias anônimas, em 1936, sua caixa de correio passou a ser vigiada pela Gestapo.   Três anos depois, o médico Ludwig Kneisel foi ao quartel-general da polícia secreta do regime nazista para delatar o " comportamento suspeito " da vizinha.   Em 1940, foi a vez da jovem Gertrude Weiss.   Ela informou aos agentes que a estudante nunca respondia à saudação " Heil Hitler! ".   Questionada no ano seguinte, Totzke confirmou que tinha amigas, mas não amigos judeus.   Corria o risco de ser acusada de ter relações sexuais com eles - um grave delito de " desonra racial ".   Em vários interrogatórios, a Gestapo advertiu que a mandaria a um campo de concentração se mantivesse as amizades.  Mas ela deu de ombros: declarou que não apoiava o antissemitismo do Reich.   Em 1943, sob a ameaça crescente, fugiu com a judia Ruth Basinsky para Estrasburgo (atual França), sua cidade natal.   As duas cruzaram a fronteira com a Suíça, mas foram detidas na aduana e entregues à Gestapo.   Totzke foi enviada ao campo de concentração de Ravensbruck - e nunca mais voltou.   A Gestapo identificava, prendia, confiscava os bens e mandava os judeus à morte.   Raros alemães desafiaram a Gestapo como ela.   Milhões, contudo, viveram no mesmo clima de pavor, em que todos eram denunciantes e potenciais denunciados.   Após a Segunda Guerra, a polícia secreta de Adolf Hitler tinha a fama de ser infalível e implacável, quase onisciente, até hoje; porém historiadores têm uma visão distinta.   Embora fosse a peça central do terror nazista e agisse praticamente acima da lei, a Gestapo não teria a mesma eficácia sem a colaboração de cidadãos comuns, como Kneisel e Weiss.   As fichas da estudante de música e outras vítimas também indicavam que a brutalidade não atingiu a todos por igual nem aconteceu do dia para a noite.   Ao menos no início do Terceiro Reich, muitos tiveram margem de manobra para lidar com as investidas do estado policial... até que já fosse tarde demais.   Quarta feira, 26 de abril de 1933.   Criada por um decreto do ministro do Interior da Prúcia, Hermann Goring, a Gestapo surgiu da necessidade de o regime nazista controlar (e eliminar) seus adversários políticos.   Vigiar o pensamento não era novidade no país.   Desde os tempos do Segundo Império (1871-1918), o chanceler Otto von Bismarck costumava recorrer as leis especiais para perseguir oponentes.   Após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra, o império deu lugar à República de Weimar (1919-1933).  Mas a democracia manteve a velha estrutura policial, a cargo de cada estado, monitorando, inclusive, as atividades dos futuros donos do poder.   Os efeitos do conflito ainda se faziam sentir, e os nazistas aproveitaram a turbulência que tomou conta da nação para obter sucessivos triunfos nas urnas.  Assim, quando o presidente Paul von Hindenburg apontou Hitler como chanceler, em janeiro, a base da Gestapo já estava pronta.  Os nazistas só precisariam depurar os profissionais e aproveitar antigos métodos de inteligência, investigação e tortura para criar sua polícia secreta.   O incêndio do Reichstag (o parlamento), em 27 de fevereiro de 1933, foi decisivo nesse processo.   Pesquisadores ainda discutem se os nazistas atearam o fogo (é provável que sim) - mas é fato que usaram as chamas para culpar os adversários comunistas.  Pressionado por Hitler, Hindenburg assinou o Decreto do Reichstag, que facultou a polícia a espiar as comunicações privadas e manter suspeitos sob " detenção preventiva " sem acusação específica.  O Partido Nazista obteve 43,9% dos votos nas eleições parlamentares da semana seguinte e conseguiu aprovar a chamada Lei de Habilitação, que dava ao fubrer o direito de dispensar o aval do parlamento ou do presidente para governar.  Logo foram abolidas as liberdades de expressão, de imprensa e de associação.   Goring, que dirigia a força policial da Prússia desde fevereiro, já havia dispensado centenas de funcionários não alinhados como o ideário nazista.   Eles foram substituídos, em geral, por integrantes das tropas paramilitares do partido, as SA e SS.   O quartel general, em Berlim, em breve teria jurisdição sobre todo o país, absorvendo outros serviços de inteligência de cada estado, que também passaram por expurgos internos.   Em novembro, uma lei isentou a polícia secreta da jurisdição do Ministério do Interior e deu aos agentes uma liberdade de ação inédita.  " Cerca de 90% dos antigos agentes das polícias políticas permaneceram na Gestapo ", afirma o historiador Robert Gellately, autor de várias obras sobre o Reich.  Segundo ele, os veteranos acabaram atraídos por uma espécie de " tentação totalitária ": o poder gigantesco adquirido pela instituição para controlar seus alvos.   Suas demandas tinham prioridade sobre as de outras polícias.  " A Gestapo reunia os investigadores de elite, encarregados de fazer valer as leis e os decretos que o regime considerava mais importantes: aqueles sobre raça e oposição política. "   As primeiras vítimas foram os comunistas, social-democratas e demais adversários políticos.   Dias após o incêndio, os nazistas ergueram 30 campos de concentração para os " inimigos ".   Antes que o mês de abril terminasse, mais de 5 mil pessoas já estavam em detenção preventiva.   Em 25 de maio, a polícia da Baviera informou que o Partido Comunista e todos os seus afiliados " haviam deixado de existir ".   A Gestapo serviu também para vigiar e punir seus próprios pares.   Nomeado ministro da aviação, Goring se viu compelido, em 1934, a entregar o controle da força a Heinrich Himmler, líder da SS, então à frente das polícias de toda a Alemanha, exceto a prussiana.   Interessados em conter a influência  da SA (mais numerosa e dirigida por Ernst Rohm), os dois usaram a Gestapo e a SS para executar centenas de " camisas pardas" (os membros da SA) em 30 de junho daquele ano - a Noite das Facas Longas.   Rohm não sobreviveu ao dia seguinte.  Não era raro que as investigações da polícia secreta servissem como arma na disputa de poder dentro do regime.   Que o digam Werner von Blomberg e Werner von Fritsch.   Em 1938, eles renunciaram aos mais altos cargos.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Arthur Bispo do Rosário - Parte 12, final.

Textos críticos: " Muito já se escreveu sobre a 'produção artística' realizada no confinamento dos asilos e manicômios, ou a dos outsiders, marginais do circuíto das artes plásticas e do sistema da Cultura, sem, contudo, conferir-lhe um papel na História da Arte, porque esta produção desliza para outras significações.    O esforço tem sido no sentido de determinar-lhes uma categoria - art brut, arte incomum, singuliers de l'art - posto que revelam a criatividade em estado puro, sem nenhuma sistematização ou disciplina, (...).   Entretanto, o interesse na obra de Bispo reside no conjunto da produção com seu método de trabalho, que consiste em uma metáfora romântica sobre ser artista: ele, no interior de sua cela, desfiava seus uniformes de interno para obter fios azuis desbotados com os quais bordava sua cartografia, mumificava os objetos do seu cotidiano.   O artista desnuda-se, despoja-se para dar existência à obra, assinalando a transitoriedade do corpo em oposição à permanência do trabalho. "   Ivo Mesquita         " As assemblages reúnem objetos geralmente industrializados, produzidos em série, ligados ao consumo e à cultura de massa.   Em cada painel uma linha de objetos: canecas de alumínio, botões, garrafas de plástico com papel picado, ferragens, sabonetes, colheres, sapatos, botas de borracha, material elétrico e eletrônico, objetos rituais.   Às vezes os objetos localizados num mesmo suporte diferem entre si, mas as texturas e os materiais se assemelham.   Vistas em conjunto, essas acumulações fazem lembrar um bazar ou loja de ferragens.   São como mostruários e, não por acaso, Bispo denominava-as 'vitrines'. (...)   Reuniu também em suportes precários objetos de madeira nua, às vezes com rala mão de cal, que lembram as merzbilders de Schwitters.   Objetos isolados.   duchampianos, eu diria, de decifração ainda difícil, com forte carga simbólica, ou simples ente de encantadores, como estas pequenas caixas na qual papéis recortados e multicoloridos são como notas musicais. "   Frederico Morais             " A extrema originalidade que reveste a obra desses criadores é fruto de vários fatores: a quase ausência de formação acadêmica, a soltura em relação ao espírito do tempo, o afastamento do convívio social, etc.   Nessa solidão ontológica reside a certeza de Fernando Diniz quando transforma em arte velhos lençóis, ou a determinação de Bispo do Rosário ao reunir objetos banais na Colônia Juliano Moreira - um dos depósitos terminais de seres humanos na trajetória de internações psiquiátricas - , transformando-os em instalações surpreendentes. (...).   Um ser que não teve ateliê, nem incentivo por parte do meio, construiu uma obra impulsionado por seu interior, de uma extrema contemporaneidade, rompendo e pondo em questão os próprios meios de que a arte se faz. "    Luiz Carlos Mello            " Se é um manto ou não, pode parecer uma questão sem importância.   Não obstante, a designação 'manto' encobre a natureza do arquétipo social sobre a qual Bispo do Rosário elaborou.   Esta obra nasce da imitação de uma peça do vestuário da nobreza: parte da roupa de um rei, ou de um general do exército real.    Só o paletó interessa, pois nele se concentram os elementos simbólicos ostentatórios de poder e nobreza, como dragonas, bordados, condecorações. (...) o que temos aqui é a apropriação pelo artista de um objeto-símbolo que a seus olhos traduz riqueza, beleza, nobreza. (...).    Vista deste ângulo, esta obra de Bispo do Rosário é, como expressão artística.   Uma manifestação surpreendente por sua originalidade e força semântica. "     Ferreira Gullar

Arthur Bispo do Rosário - Parte 11


  Histórico - Nascimento e morte: 1911-Japaratuba-16 de março.   Segundo registros da Light, onde trabalha entre 1933 e 1937, nasce em 16 de março de 1911.   Nos registros da Marinha de Guerra do Brasil, onde serve entre 1925 e 1933, consta 14 de maio de 1909.   1989-Rio de Janeiro-5 de julho     Cronologia - Artista Visual: 1925 - 1926, Rio de Janeiro RJ - Ingressa na Escola de Aprendizes da Marinha.   1925-1989, Rio de Janeiro RJ, vive nessa cidade.   1926-1933, Rio de Janeiro RJ - marinheiro e pugilista.  Consta que foi campeão brasileiro e sul-americano de boxe pela marinha na categoria peso leve.   1933-1937, Rio de janeiro RJ - Trabalha na Light como lavador de bonde e borracheiro.  Um acidente de trabalho leva-o a mover uma ação judicial quando conhece o advogado Humberto Leone.   1937-1938, Rio de Janeiro RJ - Trabalha na casa do advogado Humberto Leone, fazendo todo o tipo de trabalho doméstico e negando-se a receber salário.   No dia 22 de dezembro de 1938, teria visto Cristo descer no quintal da casa acompanhado de sete anjos azuis.   Com a visão tudo mudaria em sua vida, proclama-se Jesus Cristo e é internado no Manicômio da Praia Vermelha.    1939 - Rio de Janeiro RJ, produz por volta de mil objetos com elementos de seu cotidiano, como roupas e lençóis bordados (estandartes) e objetos recobertos com linha  azul desfiada de uniformes dos internos " para ofertar ao Todo-Poderoso no dia do Juízo Final ".    1944-1948 - Rio de Janeiro RJ, trabalha como porteiro de hotel, em escritório de advocacia e como guarda-costas do senador Humberto Marinho.     1960 - Rio de Janeiro RJ, no início dos anos 60 trabalha como " faz tudo " numa clínica pediátrica, onde reside isolado no sótão e desenvolve grande parte de sua produção artística.    1964-1989 - Rio de Janeiro, volta para a colônia e passa a " reconstruir o universo " por meio de objetos.    1980 - Rio de Janeiro RJ, Samuel Wainer Filho realiza matéria para o programa Fantástico, da TV Globo.  Hugo Denizart realiza o curta-metragem O Prisioneiro da Passagem.   1989 - Rio de Janeiro RJ, fundada a Associação dos Artistas da Colônia Juliano Moreira com o objetivo principal de preservar e promover as obras de Arthur Bispo do Rosário.    1992 - Rio de Janeiro RJ, tombamento integral das obras do artista pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural.     1993 - Brasil, primeira exibição na televisão em rede nacional do média- metragem  O Bispo do Rosário Passado: Arqueologias Emocionais, de Helena Rocha e Miguel Przewodowski.     1996 - Rio de Janeiro RJ, lançamento do livro Arthur Bispo do Rosário: O Senhor do Labirinto, de Luciana Hidalgo.      1999 - Aracaju SE , o grupo de teatro sergipano Imbuaça monta a peça Senhor dos Labirintos, reconstruindo a vida e o universo do artista.    Exposições coletivas: 1982 - Rio de Janeiro RJ, A Margem da Vida, no MAM-RJ.     Exposições póstumas: 1989 - Rio de Janeiro RJ, registros de Minha Passagem pela Terra, na EAV-Parque Lage.   1990 - Belo Horizonte MG, registros de Minha Passagem pela Terra, no Museu de Arte da Pampulha.     1990 - Porto Alegre RS, registros de Minha Passagem pela Terra, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli.     1990 - São Paulo SP, registros de Minha Passagem pela Terra, no MAC-USP.     1991 - Estocolmo (Suécia ) - Viva Brasil Viva, no Kulturhuset, Konstavdelningenoch Liljevalchs Konsthall - sala especial.    1992 - Rio de Janeiro RJ, Reciclo, na Fundação Nacional de Arte.   Centro de Artes.     1992 - Rio de Janeiro RJ, Transformando e Recriando os restos: o lixo passado a limpo, no Paço Imperial.     1993 - Rio de Janeiro RJ, Arthur Bispo do Rosário: inventário do universo, no MAM-RJ.     1994 - Rio de Janeiro RJ, Bispo do Rosário, na Galeria Ibeu Copacabana.     1994 - Rio de Janeiro RJ, Bispo do Rosário, na Galeria Ibeu Madureira.     1995 - Veneza (Itália), 46 Bienal de Veneza.    1996 - Rio de Janeiro RJ, O Navegante, no MNBA.     1997 - Cidade do México (México) - Así Está la Cosa: instalación y arte objeto en America Latina, no Centro Cultural Arte Contemporáneo.     1998 - Brasília DF, Eu Preciso Destas Palavras.   Escrita. , na CEF.     1999 - São Paulo SP, Cotidiano-Arte. Objeto Anos 90, no Itaú Cultural.    1999 - São Paulo SP,  Por que Duchamp, no Paço das Artes.    1999 - São Paulo SP, Transcendências: caixas do ser, na Casa das Rosas.    1999 - Vitória ES - Eu Vim, na Universidade Federal.   Galeria de Arte Espaço Universitário.    2000 - Rio de Janeiro RJ, Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento.   Imagens do Inconsciente, no Paço Imperial.    2000 - Rio de Janeiro RJ, Brasilidades, no Centro Cultural Light.   2000 - São Paulo SP, Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento.   Imagens do Inconsciente, na Fundação Bienal.    2001 - Nova York ( Estados Unidos ), Brazil: body and soul, no Solomon R. Guggenheim Museum.    2002 - São Paulo SP, Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas.    2003 - Paris ( França ), La Clé des Champs et Arthur Bispo do Rosário, na Galerie Nationale du Jeu de Paume.    2003 - Rio de Janeiro RJ, Arte em Movimento, no Espaço BNDES.    2003 - Rio de Janeiro RJ, Bandeiras do Brasil, no Museu da República.    2003 - São Paulo SP, Ordenação e Vertigem, no CCBB.    2004 - São Paulo SP, Brasileiro, Brasileiros, no Museu Áfro-Brasil.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 10

Comentário crítico: O passado de Arthur Bispo do Rosário é praticamente desconhecido.   Sabe-se apenas que era negro, marinheiro, pugilista, lavador de ônibus e guarda-costas.   Nas vésperas do Natal de 1938 é internado no Hospital Nacional dos Alienados , na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, após um delírio místico.  Com diagnóstico de paranóico-esquizofrênico, é transferido no ano seguinte para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá.   Entre muitas permanências e saídas, vive mais de 40 anos na Instituição, onde executa a maior parte de sua obra.   Os trabalhos de Bispo diversificam-se entre justaposições de objetos e bordados.   Nos primeiros, utiliza geralmente utensílios do cotidiano da Colônia, como canecas de alumínio, botões, colheres, madeira de caixas de fruta, garrafas de plástico, calçados; e materiais comprados por ele ou pessoas amigas.   Para os bordados usa os tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e consegue os fios desfiando o uniforme azul de interno.  Prepara, com seus trabalhos, uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo Final.   Nesse dia se apresentaria a Deus, com um manto especial, como representante dos homens e das coisas existentes.   O manto bordado traz o nome das pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas.   Bispo faz também estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quais borda desenhos, nomes de pessoas e lugares, frases com respeito a notícias de jornal ou episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia.   A criação das peças, para ele, é uma tarefa imposta por vozes que dizia ouvir.   No início da década de 1980, com as questões levantadas pela arte contemporânea com a anti-psiquiatria e as novas teorias sobre a loucura, os trabalhos de Bispo começam a ser valorizados e integrados ao circuíto de arte.   Em 1980, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, sobre a situação da Colônia Juliano Moreira, mostra suas obras, agrupadas no quartinho em que vive.   No mesmo ano, o psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart realiza o filme O Prisioneiro da Passagem - Arthur Bispo do Rosário.   Com a divulgação, veio o reconhecimento artístico das obras, que contribui para a sua participação. em 1982, na mostra A Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro - MAM-RJ, com trabalhos de presidiários, menores infratores, idosos e internos da Colônia.   Posteriormente é realizada sua primeira exposição individual, também no MAM-RJ.  O crítico de arte Frederico Morais escreve sobre seu trabalho, ligando-o à arte de vanguarda, à arte pop, ao novo realismo e especialmente à obra Marcel Duchamp (1887-1968).   Em 1995, com uma vasta seleção de peças, Bispo representa o Brasil na Bienal de Veneza e obtém reconhecimento internacional.   Sua obra torna´se uma das referências para as gerações de artistas brasileiros dos anos 1980 e 1990.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 9




Arthur Bispo do Rosário ( Japaratuba SE 1911 - Rio de Janeiro RJ 1989 ).   Artista Visual.   Em 1925, muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha na Marinha Brasileira e na Light.   Em 1938, acreditando ter visto Cristo, se registra em um monastério que o envia para um hospital psiquiátrico.   Lá é diagnosticado esquizofrênico-paranóico e, em seguida, internado na Colônia Juliano Moreira.   Alguns anos depois, tem alta, exerce alguns ofícios, mas volta para a Colônia em 1969 onde permanece até a morte.  " Para ofertar ao Todo-Poderoso no dia do Juízo Final ", produz por volta de mil peças com objetos de seu cotidiano, como roupas e lençóis bordados com linha azul desfiada de uniformes dos internos.   No início dos anos 80, permite a visita periódica da estagiária de psicologia Rosângela Maria Magalhães Gomy, para quem dedica grande parte de seu trabalho.   Em 1982, o crítico de arte Frederico Morais inclui suas obras na exposição.   A Margem da Vida, no MAM-RJ.  É tema de filmes de curta e ´media-metragens, do livro Arthur Bispo do Rosário: O Senhor do Labirinto, de Luciana Hidalgo e de peças teatrais.   Em 1989, é fundada a Associação dos Artistas da Colônia Juliano Moreira para a preservação de suas obras, que são tombadas, em 1992, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural.  A divulgação do seu trabalho culmina, em 1995, com uma vasta seleção de peças que representam o Brasil na Bienal de Veneza.   Sua obra se encontra reunida no Museu Bispo do Rosário, antes chamado Museu Nise da Silveira, localizado na ex-Colônia Juliano Moreira.  Em 2003, a Galerie Nationale du Jeu de Paume, de Paris, exibe 79 trabalhos do artista na mostra La Clé des Champs et Arthur Bispo do Rosário, que também reúne uma seleção de 117 obras realizadas por pacientes com problemas mentais de diversos países.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 8




O reconhecimento do Brasil e do exterior ainda não é presente em Sergipe, estado natal de Arthur Bispo do Rosário.   Poucas pessoas até tem conhecimento das obras do artista.   Entre as que sabem do lugar de seu nascimento, elas são mais raras.   " Não precisa andar por toda a cidade de Aracaju.   Se você fizer uma pesquisa lá mesmo na Universidade (UFS), perceberá que o número de pessoas que conhecem a obra do Bispo vai ser pequeno entre os estudantes.   Entre os professores também."   Ao fazer esta análise, Luís Antônio surpreende o repórter, que pede uma explicação melhor.   Aqui vai ela: " A obra dele não foi associada ao fato dele ser sergipano, nem mesmo aos elementos da nossa cultura.  É o que eu tento divulgar nos artigos que eu escrevo: Bispo do Rosário é o maior nome das artes plásticas sergipanas em todos os tempos. "    A situação seria revertida com a presença dos trabalhos do ex-marinheiro aqui no Estado, mas eles não existem, nem mesmo em Aracaju, tampouco em Japaratuba.   Houve tentativas de trazer alguns trabalhos para cá, inclusive na época em que Luís Antônio foi secretário da Cultura.  Devido às divergências burocráticas, elas não deram resultados.    Mas uma solução está despontando para reverter esse jogo: A Secretaria Estadual da Cultura anunciou que conseguiu um acordo com a Colônia Juliano Moreira.   O chefe de gabinete da Secretaria, Pascoal Maynard, disse por telefone à Rádio UFS que está previsto para janeiro de 2004 o traslado dos restos mortais do artista, hoje no Rio, a serem enterrados em Japaratuba.   Na ocasião, será aberta uma exposição permanente dos principais trabalhos de Bispo do Rosário, em um memorial que está sendo organizado em sua homenagem.   Pascoal afirmou ainda que o ministro da cultura, Gilberto Gil, está apoiando a iniciativa e pode marcar presença nas solenidades, que já estariam confirmadas.   

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Arthur Bispo do Rosário - Parte 7



Além das exposições, a obra deu margem a um grande número de ensaios, textos, e peças para cinema, teatro e televisão.   Uma delas foi montada em 1999 pelo Grupo Imbuaça, a partir do texto de Maurício Arruda Mendonça, chamado Senhor dos Labirintos.   Como que inspirado na biografia  de Luciana Hidalgo, a companhia teatral sergipana recriou toda a trajetória  de vida do conterrâneo, em um belo espetáculo que foi bem recebido até no Rio de Janeiro.   Outra peça, mais recente, parte de uma curiosa relação de amizade que Arthur teve  com a psicanalista Rosângela Grilo Magalhães, na época estagiária da Juliano Moreira, em uma convivência marcada pela cumplicidade, pelo respeito e pelo carinho mútuo entre os dois.   O monólogo, já encenado em diversas capitais brasileiras, é conduzido com categoria pelo ator baiano João Miguel, que também assina a direção, juntamente com Edgar Navarro.   Peças descobertas recentemente entraram em duas grandes exposições.   Uma ocorreu no início de julho na Galeria Nacional Jeu de Paume, em Paris.  Outra foi aberta no último dia 1 e vai (foi) até 12 de outubro, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.   Assim continua a maratona de exposições que confirmam o artista sergipano como um grande nome da arte contemporânea, artistas das vanguardas européias que despontaram no início do século XX, como René Magritte e Marcel Duchamp.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 6



Arthur Bispo do Rosário já percebia que seus estandartes e bordados chamavam a atenção das pessoas, mas não teve tempo de conferir sua consagração como artista.   Na noite de 5 de julho de 1989, provável data em que completara 80 anos, ele encerrou seu longo retiro preparatório e foi se apresentar a Deus, objetivo que acalentara por toda sua vida.  Ao todo, foram catalogadas cerca de 900 peças produzidas por Bispo do Rosário e a posse delas tem sido motivo de uma série de desentendimentos burocráticos.   Após a morte do artista, os internos e médicos da Colônia criou uma Associação de artistas para cuidar das obras.   Ela funcionou por muito tempo sem verbas ou incentivos oficiais, mesmo sendo requisitada por muitos museus e órgãos públicos culturais do Brasil e do Exterior.   Alguns desses pedidos puderam ser atendidos e outros não.  A situação de descaso que agora atingia seus trabalhos, mudou quando eles foram requisitados pelos organizadores da Bienal de Veneza, na Itália.   Só assim que os administradores do manicômio, ligado ao Governo Federal, se mexeram e passaram a cuidar melhor dos registros de Bispo do Rosário.   

Arthur Bispo do Rosário - Parte 5

Bispo costumava dizer que " um dia, simplesmente apareceu no mundo ", para não deixar indícios de sua infância e adolescência; segundo o pesquisador, os trabalhos do sergipano contém justamente o contrário.  " Entre os muitos detalhes impressos ali, estão elementos da religiosidade popular, da coroação dos Reis Negros, do Cacumbi, do Reisado, da Chegança e do artesanato que está muito presente através dos trançados e das técnicas de bordado que ele usava principalmente escrevendo em alto-relevo ", explicou ele.   Até mesmo um manto cheio de bordados e outros paramentos foi confeccionado.  Ele dizia que esta era a sua melhor roupa, com a qual iria se apresentar diante de Deus.   Acabou sendo o manto da apresentação, sua obra mais conhecida.   " Ao fazer o manto, ele resgatou uma influência da cultura popular, que é a de amortalhar os mortos com um manto ou a melhor roupa que ele possuía.   Para ele, esse manto era uma roupa comum, não uma obra de arte.   Bispo do Rosário tinha um grande sentimento religioso, de devoção.   Ele tinha uma satisfação pessoal com o que fazia, não tendo uma preocupação artística, nem de agradar aos outros. ", observa Luís Antônio Barreto.   Assim também acreditava Nise da Silveira, psiquiatra que defendia o fim do eletrochoque nos manicômios e a arte como uma forma eficiente de tratamento.   Assim, ela criou o Museu do Inconsciente, reunindo os trabalhos produzidos pelos internos da Juliano Moreira.   Foi ali que os " registros " Bispo do Rosário chamaram a atenção de críticos e jornalistas como José Castello e Walter Firmo, que fizeram a primeira reportagem sobre o paciente talentoso, em julho de 1985, para a revista Isto É.  Outro impressionado foi Frederico de Morais, especialista em artes plásticas que escrevia para o jornal O Globo.   Ele organizou a primeira mostra individual, em 18 de outubro de 1989, no Rio de Janeiro.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 4

Foram registrados essas mensagens de Arthur Bispo do Rosário na forma de vários estandartes, murais, bordados, e muitas peças feitas a partir de panos velhos, sucatas, lixo com variedades de cores, detalhes, escritos e temas.  Era nesse momento em que Bispo do Rosário, que é assim que ele é conhecido; dizia ter que apresentar todas essas obras diante de Deus, ao " fazer a passagem " para o além.   No longo retiro da colônia, a preparação para esse momento foi intensa.   Os documentos oficiais não pontavam indícios sobre sua origem ou família.   A data de nascimento é uma grande incógnita, visto que não foi feito uma certidão de  nascimento.   Para escrever a excelente biografia " O Senhor do Labirinto ", em 1995, a jornalista carioca Luciana Hidalgo precisou fazer uma verdadeira investigação em documentos antigos de manicômios, da marinha e da igreja Nossa Senhora da Saúde, em Japaratuba, onde foi batizado em 5 de outubro de 1909, e aos 3 meses de idade.   Pela descoberta, pode-se imaginar que ele nasceu no início de julho do mesmo ano.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 3

Até a véspera do Natal de 1938 tudo transcorria desta forma, quando Arthur Bispo do Rosário presenciou a chegada de um luminoso cortejo de anjos e soldados celestiais da qual lhe traziam uma mensagem de Deus:  " Reconstrua o universo e registre a minha passagem aqui na Terra. " ( assim dizia ) e sob " ordens divinas ", ele deixa a casa dos patrões e vai a para uma igreja  onde se apresenta como o homem " que veio julgar os vivos e os mortos "; mas ninguém acredita e o fato é que após esse episódio, o visionário começa sua peregrinação por clínicas e hospícios até chegar a Juliano Moreira.   Os registros do manicômio afirmavam que o ex-marinheiro sofria de " esquizofrenia parenóide ", o diagnóstico frio o condenava a um polêmico tratamento muito usado na época: o eletrochoque.  Mas ele conseguiu escapar da sentença e passou a impor respeito.   O segredo estava no boxe, o esporte que Arthur praticou desde a época da marinha.   Com a condição de " xerife ", ele fica livre para cumprir sua missão de registrar a passagem de Deus pela Terra.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 2

A Europa toda gosta do Arthur Bispo do Rosário, como observou o jornalista e pesquisador Luís Antônio Barreto ao ser perguntado sobre a maior herança deixada por esse fantástico personagem urbano, nascido na cidade sergipana de Japaratuba.  O Arthur Bispo do Rosário veio de uma das muitas famílias pobres do Vale do Cotinguiba, que naquela época passava por um período de estagnação econômica.   E a alternativa encontrada pelos jovens dessas famílias era a carreira militar, pois na Escola de Aprendizes Marinheiros era garantido ter casa e comida, mesmo não ganhando um bom salário e nesse período difícil Arthur deixou Japaratuba aos 15 anos de idade, passou por Aracaju antes de se instalar definitivamente no Rio de Janeiro em 1925.   Deixou a Marinha oito anos depois e a partir daí, ele foi trabalhar como empregado de uma influente família carioca que continuou garantindo-lhe casa e comida em troca de serviços.

Arthur Bispo do Rosário - Parte 1

Arthur Bispo do Rosário ( 1911-1989 )... A arte sergipana que ganhou o mundo.   O artista sob a visão das pessoas, : louco para alguns e gênio para outros.   O artista usava a sucata, o lixo para produzir suas obras que apenas pretendia marcar a passagem de Deus na Terra, era assim que ele sentia, via.  Já se sabe que desde a época do Arthur Bispo do Rosário a sociedade via com maus olhares para pessoas com doença mental, não se enquadravam em determinados padrões considerados " normais " e esse era o caso do artista plástico que hoje considerado um gênio nas artes com seus trabalhos em exposições no Brasil e no estrangeiro.   Mas se consagrou apenas no final de sua vida.  Por muitos anos o artista esteve internado na Colônia Juliano Moreira, o maior e mais antigo manicômio do Rio de Janeiro-Brasil, onde ele produziu suas obras naquele mundo estranho e tornou-se um gênio da arte.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa " transbordou " sua obra.   Conforme ele mesmo escreveu a respeito de sua obra, " transbordei, não fiz senão extravasar-me ".   Dividido em múltiplas pessoas, a sua e de seus heterônimos, Fernando transbordou em poesia.   Buscou com sua obra encontrar a si e ao outro.   E para tanto, Pessoa desdobrou-se em outros personagens literários, extensões de sua poderosa criatividade.   São seus heterônimos, personalidades literárias que inventou para expressar os muitos lados de sua obra.   Fernando Pessoa contou como nasceram seus heterônimos.   " (...) Em 8 de março de 1914 - acerquei-me de uma cômoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso.   E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir.   Foi o dia triunfal de minha vida, e nunca poderei ter outro assim.   Abri com um título, O Guardador de Rebanhos.   E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro.   (...) E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa.   Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir - instintiva e subconscientemente  - uns discípulos.   Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis Latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nesta altura já o via.   E, de repente, e em derivação oposta, à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo.   Num ato, e a máquina de escrever, sem interrupção, nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro campos - a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem. ".     Conta o poeta a Adolfo Casais Monteiro nesse importante texto que passou a ser chamado de " carta sobre a gênese dos heterônimos ".   " Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram.  ( Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo.   Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos. )    Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, caráter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real.   Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar. "   Escreve em janeiro de 1935 ao crítico Adolfo Casais Monteiro, codiretor da revista Presença, principal veículo do chamado Segundo Modernismo português.   Com as personalidades literárias que inventou, Fernando Pessoa se reinventou para dar vazão à poesia que nele gestava.   Para Pessoa, " Álvaro não passava de um tardo-simbolista blasé, burguês culto e entendiado ", o qual, " opta pela ética do dinamismo e da violência ".   Era o " mais histérico " de seus heterônimos.   É o maior crítico de seu criador.   Segundo Álvaro de Campos, Pessoa era, " um novelo embrulhado para o lado de dentro ", alguém que " sente as coisas mas não se mexe, nem mesmo por dentro ".   Álvaro de Campos nasceu em 1890 em Tavira, mas, como Pessoa, estudou em um país de língua inglesa.  Formou-se em Glasgow ( Escócia ), em engenharia naval.   Depois de viajar pelo oriente, onde sofreu uma desilusão com a civilização europeia e deu início à sua obra poética, Campos volta a Portugal, onde encontra o " mestre " Alberto Caeiro.   Impressionado com a simplicidade de Caeiro - como Fernando Pessoa também ficou ao " conhecê-lo " -, Campos torna-se seu discípulo.   " O que o mestre Caeiro me ensinou foi a ter clareza; equilíbrio, organismo no delírio e no desvairamento,  e também me ensinou a não procurar ter filosofia nenhuma, mas com alma ", registrou o heterônimo.   No entanto, uma vez mais, o inquieto Campos se desilude e se afasta de Caeiro.   Então, aproxima-se do Modernismo.   Álvaro de Campos experimenta a civilização e admira sua energia e força, registrando em seus poemas a ânsia de viver de forma integral a complexidade de todas as sensações.   Entre os heterônimos, Campos  foi o único a manifestar fases diferentes ao longo de sua obra.   Ele tem três fases distintas.   A primeira é marcada pelo Decadentismo, um movimento literário que se desenvolveu no final do século dezenove em oposição ao Realismo e que busca explorar a dimensão misteriosa da existência.   Pouco depois, Campos adere ao Futurismo.   Nesta fase, o engenheiro exalta o mundo moderno e sua poesia é comparada à do norte-americano Walt Whitman.    Campos até mesmo lhe dedica um poema, " Saudação a Walt Whitman ".    Finalmente, depois de uma série de desilusões existenciais, o heterônimo assume uma veia intimista.   Esse período é chamado de Fase Abúlica.   Espelha a desilusão com o mundo em que vive.   A produção desse período é imbuída de tristeza e cansaço.   A influência da obra de Fernando Pessoa vai além da língua portuguesa.   O ensaísta norte-americano Harold Bloom, em sua influente obra O Cânone Ocidental, considera-o, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX.   Por isso, conforme colocou Roman Jakobson, " é imperioso incluir o nome de Fernando Pessoa no rol dos grandes artistas mundias nascidos no curso dos anos (18)80: Picasso, Joyce, Braque, Stravinsky, Khlébnikov, Le Corbusier.   Todos os traços típicos dessa grande equipe encontram-se condensados no grande poeta português ".   Trabalhando sobre formas poéticas preestabelecidas, Pessoa produz sempre algo novo.  Ele vê a língua portuguesa sob uma perspectiva diferente dos outros falantes nativos.   Conforme afirma a crítica Leyla Perrone-Moisés, " Pessoa forçou a língua portuguesa a uma tal capacidade de materializar abstrações, a uma tal sobriedade para dizer o excessivo, a uma tal definição para dizer o indefinido, que depois dele, todo o derramamento de tipo sentimental, toda facilidade de retórica decorativa aparecem como erros imperdoáveis ".   Com isso, Fernando Pessoa deixou sua marca de inventor de uma nova linguagem poética em todos os poetas portugueses e brasileiros que vieram depois.   Os elementos-chave da sua obra são minimalistas.   Constituem-se, conforme Perrone-Moisés, em " um jogo de xadrez em que as peças são sempre as mesmas - Eu, o outro; sujeito, objeto - mudando apenas de lugar - aqui, em frente - , sem nenhuma possibilidade de fim de partida,. "  E esse jogo de xadrez poético continua a encantar e a influenciar gerações de leitores e a fazer de Pessoa um marco na literatura da língua portuguesa comparável a Camões.   Fernando Pessoa era taciturno.   Solitário, recluso e dado a beber muito, punha-se à parte do mundo.   Sentia que o poeta precisava se afastar e silenciar para poder ouvir a si e ao outro.   Apesar do prestígio que alcançou a partir da década de 1930, Pessoa ganhava a vida como tradutor, era uma espécie de freelancer, prestando serviços para diversos escritórios comerciais.   Isso lhe dava certa liberdade para contemplar e dedicar-se à poesia.   Sua rotina foi estabelecida para girar em torno da própria mente.   Como um monge que atém a observar seus pensamentos, o poeta criou um cotidiano onde a principal atividade era a exploração de seu espaço mental.   Depois de um dia de trabalho traduzindo contratos e textos comerciais - o qual incluía algumas escapadas para a casa de vinhos local - Pessoa se retirava para  sua mansarda, onde escrevia ou fazia e estudava mapas astrais.   Esse cotidiano inteiramente dedicado à produção mental criou uma obra ímpar e que em parte permanece inédita.   Ironicamente, o cotidiano que Fernando Pessoa viveu continua a influenciar o cotidiano dos estudiosos de literatura de hoje.  São eles que têm de estudar e vasculhar o espólio literário do grande poeta e trazer à luz aquilo que ainda possa estar oculto.   Lisboa, 13 de junho de 1888.   Enquanto os sinos badalavam em homenagem a Santo Antônio, nascia Fernando Antônio Nogueira Pessoa.   Cedo, a morte marcou sua vida.   O pai, Joaquim de Seabra Pessoa, funcionário público do Ministério da Justiça e crítico de música do Diário de Notícias, morreu quando Fernando tinha apenas cinco anos.   Pouco depois, foi a vez de seu irmão, Jorge, que faleceu com pouco mais de seis meses.    A mãe, Maria Magdalena Pinheiro Nogueira, se casa de novo,com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal na África do Sul.   Assim, aos sete anos Fernando se muda para Durban.   Na África do Sul, Fernando destaca-se na escola de língua inglesa que frequenta, a West Street.   Ganha o prêmio Rainha Vitória de estilo inglês no exame de admissão à Universidade do Cabo.   Escreve poesia e prosa, sempre em inglês.   A educação que Fernando recebeu foi " aristocrática , moralista e traumatizante ", conforme ele mesmo descreveu.   De volta a Lisboa, em 1905, para estudar Letras, a língua portuguesa revela-se " estrangeira ", " estranha ".   Em pouco tempo, desiste do curso.  Após fundar uma tipografia, a qual mal chegou a funcionar, Pessoa começa a trabalhar como tradutor de cartas e depois correspondente estrangeiro, em escritórios de importação e exportação.   Ele considera que, " o ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação ".   O ofício de tradutor comercial o lança na mais sombria monotonia.   Para fugir da mesmice, começa a beber.   Nessa época, passa a colaborar na revista Águia, do grupo saudosista Renascença Portuguesa.   Foi cofundador da Orpheu, revista de vanguarda em sintonia com os novos movimentos europeus, como o Futurismo e o Cubismo.   Orpheu não chegou ao terceiro número, mas suas duas únicas edições são o bastante para romper com a estética literária então vigente.   O misticismo permeia sua obra.   Pessoa busca na sua expressão artística " tudo quanto constitui o fundamental e o essencial do meu íntimo ser espiritual ", como escreveu a Armando Côrtes-Rodrigues em 1915.   A arte tem quase o mesmo sentido que um sacerdócio: " à minha sensibilidade cada vez mais profunda, e á minha consciência cada vez maior da terrível  e religiosa missão que todo o homem de gênio recebe Deus com o seu gênio, tudo quanto é futilidade literária, mera arte, vai gradualmente soando cada vez mais a oco e repugnante ".   Intrigado com o grande mistério que permeia a existência, estuda ocultismo.   Aproxima-se da maçonaria, embora nunca tenha se descoberto a que loja pertenceu - se é que pertenceu a alguma.   Dedica-se à astrologia com afinco e dela lança mão com frequência.   Em 1914, o ortônimo Pessoa " conhece " seu heterônimo Alberto Caeiro.   O heterônimo nascera em Lisboa no mesmo ano que Pessoa, mas vive no Ribaltejo.   Não tem profissão.   Instrução mínima.   Debruçado na janela da casa de uma velha tia-avó, lança seu olhar sobre o mundo.   Simples, bucólico, direto.   Escreve O Guardador de Rebanhos, O pastor amoroso e os Poemas inconjuntos.   Era o mestre de Fernando Pessoa  que a ele se revelava.   No mesmo ano, outro discípulo de Caeiro surge para Pessoa.   É o vanguardista Álvaro de Campos, inquieto, modernista, complexo.   Ao contrário de Fernando Pessoa, Campos viaja, vê o mundo e é ativo.   Em junho daquele fértil 1914, outro poeta surge na vida de Pessoa.   O monarquista Ricardo Reis tem " estatura média, embora frágil não parecia tão frágil como era, de um vago moreno mate. ", conforme a descrição que o próprio Pessoa faz a Adolfo Casais Monteiro.   Nascido em 1887, Reis, médico do Porto, passou um tempo exilado no Brasil depois da proclamação da República.    " Tradicional, conservador, parte do classicismo para abordar a inquietação humana, interrogar o sentido do Universo ", Ricardo Reis escreve intensamente: onze odes num só mês.    Mais um escritor entra na vida de Pessoa.    Numa casa de pasto de Lisboa, Pessoa conhece um homem que aparenta 30 anos, magro, mais alto que baixo, curvado exageradamente quando sentado.   Passaram a cumprimentar-se e logo se tornam amigos.   É o heterÔnimo Bernardo Soares, que dá ao poeta o seu livro do desassossego.   Fernando Pessoa diz sobre si mesmo ser um " invertido frustrado ".    Confessa sentir como uma mulher e pensar como um homem.   Mais ainda, refere-se  a " um corpo de mulher que foi meu outrora e cujo cio sobrevive ".    Apesar dos indícios sobre seu homossexualismo, Pessoa teve uma namorada, Ophélia Queiróz, com quem se relacionou por duas vezes: em 1920 e, depois, entre 1929 e 1931.    O namoro, porém, não foi em frente.   Pessoa desmanchou o compromisso por conta de um desentendimento com Álvaro de Campos.    Sua criação temia que o romance desviasse Pessoa da poesia.   Ele abandona, assim, essa rara possibilidade de contato com o outro.    O álcool é uma constante em seu cotidiano, apesar de quase nunca aparecer em seus poemas, e, nas poucas vezes em que aparece, é encarado como fuga e derrota.   Vê a si mesmo como um " perdedor ": solteirão, trabalhando num emprego menor, dado à bebida, sem " paciência para a higiene ", caloteiro, repleto de escritos quase todos inéditos.   Pessoa diz sobre si mesmo ser um " gênio desqualificado ".    Em geral, seu estado de espírito é melancólico ou deprimido.   Em Páginas Íntimas e de auto-interpretação, afirma, afirma que " uma das minhas complicações mentais - mais horrível do que as palavras podem exprimir - é o medo da loucura, o qual em si, já é loucura. "    Pessoa sofre graves crises de depressão, a pior delas entre o final de 1914 e o início do ano seguinte - logo após a dispersão heteronímica.    Uma carta de 1919 a dois psiquiatras franceses revela o diagnóstico  que o poeta fazia  de sua " doença ", como se referia ao ânimo  que quase sempre o dominava.   Nesta, ele se descreve como um " histérico-neurastênico ", com predominância de neurastenia.   Anos depois, ele vem atribuir à histeria a construção de sua poesia.   E Álvaro de Campos, segundo o poeta, é o mais histérico de mim. "     A partir da década de 1930, Fernando Pessoa é reconhecido como uma das figuras intelectuais portuguesas mais proeminentes.   A geração do segundo Modernismo português o saúda como mestre, mas ele não tem muito tempo para gozar o reconhecimento.   Na noite de 27 para 28 de novembro de 1935, o álcool que consumiu a vida toda o consome numa terrível cólica hepática.   Na manhã seguinte, é internado no Hospital de São Luís dos Franceses.    Quando a morte se aproxima, em 30 de novembro, a vista  falha: " Dá-me os óculos! ", pede.   São suas últimas palavras.   O modernismo em Portugal ( e seu mais importante representante, Fernando Pessoa ) surgiu em meio à grande instabilidade política da recém-instaurada República, declarada em 1910,com o assassinato do rei Carlos de Bragança.   A situação portuguesa se agravou ainda mais com a Primeira Guerra Mundial, a qual trouxe a ameaça de o país perder suas colônias ultramarinas, cobiçadas pelas grandes potências.    Por conta disso, um forte sentimento nacionalista se desenvolveu no país.   É nessa época , mais precisamente em 1912, que Fernando Pessoa estreou como ensaísta e crítico literário na revista Águia.   O Modernismo surgiu como resposta à transição  que se começou a operar desde o início da Revolução Industrial.    Os novos conhecimentos técnicos e científicos mudaram diametralmente a visão de mundo estabelecida no Ocidente desde a Grécia clássica.    À medida que os conceitos teológicos, políticos e sociais eram debatidos, uma nova maneira de entender o homem e o universo tomava o lugar das antigas concepções.   As novas tecnologias também forneciam outras perspectivas para entender a realidade de outra maneira.    Correntes de pensamento - notadamente a teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1855-1946 ) e o niilismo de Friedrich Nietzche (1844-1900) - também ajudaram  a desbancar o antigo e a clamar pelo moderno.   Em termos políticos, o esfacelamento dos grandes impérios europeus, como o Austro-Húngaro e o russo, bem como a disputa por colônias na África e na Ásia, pressionava por uma nova configuração geopolítica na Europa e no mundo.    Essas mudanças drásticas tiveram, é claro, reflexo nas expressões artísticas.   Uma nova estética já vinha se desenvolvendo, principalmente nas artes plásticas, desde a segunda metade do século dezenove.   Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, já havia um movimento que refutava peremptoriamente tudo o que fosse antigo em favor do novo, do moderno.   O Modernismo, como veio a ser chamada a nova tendência estética, aglutinava em si diversas propostas, como o Futurismo, o Surrealismo, o Dadaísmo, o Cubismo e o Expressionismo.   Em Portugal, o Modernismo teve sua fundação em 1915 e no Brasil, em 1922, com a Semana da Arte Moderna.   Diversos compositores brasileiros e portugueses musicaram poemas de Pessoa.   Tom Jobim, por exemplo, transformou em música o poema O Tejo é mais belo.    Outro compositor a se inspirar em Fernando Pessoa, foi Caetano Veloso.   Na canção Língua, há um trecho inspirado em Pessoa, que afirma: " a minha pátria é a língua portuguesa ".   Também o grupo Secos e Molhados, do qual Ney Matogrosso era vocalista, musicou a poesia Não, não digas nada.    Ainda baseado na obra de Pessoa, José Saramago escreveu o Ano da Morte de Ricardo Reis, no qual o heterônimo volta a Lisboa em 1936, depois de 16 anos de ausência.   Fernando Pessoa escreveu sobre sua produção que " a obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. "   O que, de livros ou folhetos, considera como válido é o seguinte: " 35 Sonnets ( em inglês ), 1918; English Poems 3 ( em inglês ), 1922, e o livro Mensagem, 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria Poema. "    Sua obra completa foi publicada postumamente.   A partir de 1943, Luís de Montalvor deu início à edição das obras completas de Fernando Pessoa, abrangendo os textos em poesia dos heterônimos e de Pessoa ortônimo.   Foram ainda sucessivamente editados textos de Pessoa sobre temas de doutrina e crítica literárias, filosofia, política e páginas íntimas.   Entre esses, contam-se a organização dos volumes Poesias ( de Fernando Pessoa ), Poemas dramáticos ( de Fernando Pessoa ), Poemas ( de Alberto Caeiro ), Poesias ( de Álvaro de Campos ), Odes ( de Ricardo Reis ), Poesias Inéditas ( de Fernando Pessoa, dois volumes ), Quadras ao gosto popular ( de Fernando pessoa ), e os textos em prosa de Páginas íntimas e de auto-interpretação, Páginas de estética e de teoria e crítica literárias, Textos filosóficos, Sobre Portugal - Introdução ao problema nacional, Da república (1910-1935) e Ultimatum e Páginas de sociologia política.   Do seu vasto espólio foram também retirados o Livro do Desassossego, escrito por Bernardo Soares, publicado na década de 1980, e uma série de outros textos.  Ainda há escritos inéditos no famoso baú onde o poeta guardava sua produção.  Certamente, muitas coisas sairão do espólio de Pessoa.    ___ Livro Clássicos __Poemas de Álvaro de Campos __ Fernando Pessoa

sábado, 5 de agosto de 2017

As obras de arte mais nojentas do mundo.



O artista Vinicius Quesada, natural de São Paulo, Brasil; mistura seu sangue e urina com tinta para fazer colagens e pinturas.   O sangue é usado em todas as cores, enquanto a urina fica para os tons amarelos ou esverdeados.  Uma das suas últimas séries, batizada de Blood Piss Blues = Sangue Xixi Blues, atraiu a atenção da mídia estrangeira.   Como não aceita usar sangue alheio em suas obras, Quesada fica meses sem produzir novo material.        A artista Helen Chadwick, com sua obra que é um conjunto  de 12 esculturas em bronze fundido que lembram flores.   Para criá-las, a artista britânica urinou na neve, formando uma cavidade.   Depois, seu marido urinou em pequenos jatos ao redor desse buraco.  As deformações na neve foram moldadas em bronze fundido e lembram flores: o xixi dela é o caule, o dele as pétalas, romântico... ou não rsrs       Durante dois anos o artista James R. Ford, entre 2002 e 2004, coletou o muco de seu nariz em um recipiente.   O resultado foi uma bolinha de 2,1 cm de diâmetro feita de pura meleca!.   Segundo Ford, as operações de retirada, seleção e coleta dos excrementos foram parte de um processo obsessivo e frustrante, que exigiu muito empenho.   Mas, pelo jeito, compensou: ele conseguiu vender a obra por cerca de US$ 20 mil.        O artista Andy Warhol , primeiro pintou 12 telas comuns com tintas metálicas feitas a partir de cobre.   Depois, foi chamando os amigos para urinar em cima delas.   O cobre reagia com o ácido úrico, produzindo formas e cores diferentes.   Warhol experimentou diversos padrões de coloração, variando os produtores de xixi e a dieta deles.   Hoje, uma tela custa pelo menos US$ 900 mil !!!!           O artista Keith Boadwee, professor adjunto de uma faculdade de artes norte-americana, tem um método de pintar um tanto quanto excêntrico: ele insere tinta à base de água no ânus com a ajuda de uma mangueira, e depois, espirra tudo pelo esfíncter em uma tela em branco.   Os jatos de tinta formam padrões abstratos que lembram as obras do pintor Jackson Pollock.   Dica: Não jogue o nome desse cara no google!          O artista Piero Manzoni ficou um belo tempo na privada para acumular fezes suficientes e preencher 90 latas com o material.    Com essa tarefa concluída, foi só colocar o rótulo: Merda de artista.  Conteúdo: 30 g. Produzido e enlatado em maio de 1961.   Em 2007, uma delas foi vendida por 124 mil!!!! Detalhe: as latas estão lacradas e ninguém sabe se tem mesmo cocô dentro.        O artista Marc Quinn, sua obra é uma reprodução fiel e detalhada da cabeça do artista, moldada com 4,5 litros de seu próprio sangue congelado, retirado ao longo de cinco meses.   Quinn decidiu criar uma estátua a cada cinco anos, monitorando dessa forma suas mudanças fisicas e seu envelhecimento.   A National Portrait Gallery, de Londres, adquiriu um exemplar de Self por 300 mil libras para ter em sua coleção permanente.         O artista Andres Serrano, a polêmica foto retrata um pequeno crucifixo de plástico imerso em um copo cheio da urina de Serrano, fotógrafo norte-americano.    A peça venceu um concurso de arte contemporânea nos EUA patrocinado com dinheiro público.   De lá para cá, exibições da obra colecionaram protestos e ataques de vandalismo, Serrano chegou até  mesmo a ser ameaçado de morte!!         O artista Zhu Cheng, um dos escultores mais famosos da China, realizou junto com nove de seus estudantes de arte, uma réplica da Vênus de Milo feita de excrementos de panda.   A reprodução da obra da Grécia antiga precisou ser colocada dentro de uma  caixa transparente para conter o forte cheiro que emana.   Foi comprada por um colecionador suíço por mais de US$ 45 mil !!!          O artista Marco Evaristti, dinamarquês, nascido no Chile, já havia criado polêmica ao fazer uma exibição em que peixinhos dourados nadavam dentro de liquidificadores, os quais podiam ser ligados pelo público.   Já para essa maravilha, Evaristti produziu 48 almôndegas com a gordura retirada dele mesmo, por meio de uma operação de lipoaspiração.    Algumas foram cozidas pelo próprio artista e servidas em um jantar para amigos completamente desavisados sobre estarem comendo parte do corpo do anfitrião.   Outras foram colocadas em pacotes de dez e vendidas ao preço de US$ 4 mil!!!!   Segundo o site do artista, a obra " critica a cultura consumista dos dias de hoje ".   E aí, deu vontade de por no macarrão (pergunta).     Fontes BBC, The Guardian, The Sunday Times, The New York Times, The Partial Observer, American Repertory Theater e revista Wired.  Texto Carlo Cauti - Revista Mundo Estranho