A Gestapo nasceu em 1933 para esmagar a oposição a Adolf Hitler e logo se transformou na peça central do terror nazista. Com a ajuda de cidadãos comuns, a Gestapo vigiou, sequestrou, torturou e executou milhares de pessoas. Fonte: Revista " Aventuras na História ", para viajar no tempo, por Eduardo Szklars __ Em 1934, a estudante de música Ilse Sonja chamou a atenção dos moradores da pequena Wurtzburgo, na Alemanha. Volta e meia, era vista conversando com judeus. Graças a denúncias anônimas, em 1936, sua caixa de correio passou a ser vigiada pela Gestapo. Três anos depois, o médico Ludwig Kneisel foi ao quartel-general da polícia secreta do regime nazista para delatar o " comportamento suspeito " da vizinha. Em 1940, foi a vez da jovem Gertrude Weiss. Ela informou aos agentes que a estudante nunca respondia à saudação " Heil Hitler! ". Questionada no ano seguinte, Totzke confirmou que tinha amigas, mas não amigos judeus. Corria o risco de ser acusada de ter relações sexuais com eles - um grave delito de " desonra racial ". Em vários interrogatórios, a Gestapo advertiu que a mandaria a um campo de concentração se mantivesse as amizades. Mas ela deu de ombros: declarou que não apoiava o antissemitismo do Reich. Em 1943, sob a ameaça crescente, fugiu com a judia Ruth Basinsky para Estrasburgo (atual França), sua cidade natal. As duas cruzaram a fronteira com a Suíça, mas foram detidas na aduana e entregues à Gestapo. Totzke foi enviada ao campo de concentração de Ravensbruck - e nunca mais voltou. A Gestapo identificava, prendia, confiscava os bens e mandava os judeus à morte. Raros alemães desafiaram a Gestapo como ela. Milhões, contudo, viveram no mesmo clima de pavor, em que todos eram denunciantes e potenciais denunciados. Após a Segunda Guerra, a polícia secreta de Adolf Hitler tinha a fama de ser infalível e implacável, quase onisciente, até hoje; porém historiadores têm uma visão distinta. Embora fosse a peça central do terror nazista e agisse praticamente acima da lei, a Gestapo não teria a mesma eficácia sem a colaboração de cidadãos comuns, como Kneisel e Weiss. As fichas da estudante de música e outras vítimas também indicavam que a brutalidade não atingiu a todos por igual nem aconteceu do dia para a noite. Ao menos no início do Terceiro Reich, muitos tiveram margem de manobra para lidar com as investidas do estado policial... até que já fosse tarde demais. Quarta feira, 26 de abril de 1933. Criada por um decreto do ministro do Interior da Prúcia, Hermann Goring, a Gestapo surgiu da necessidade de o regime nazista controlar (e eliminar) seus adversários políticos. Vigiar o pensamento não era novidade no país. Desde os tempos do Segundo Império (1871-1918), o chanceler Otto von Bismarck costumava recorrer as leis especiais para perseguir oponentes. Após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra, o império deu lugar à República de Weimar (1919-1933). Mas a democracia manteve a velha estrutura policial, a cargo de cada estado, monitorando, inclusive, as atividades dos futuros donos do poder. Os efeitos do conflito ainda se faziam sentir, e os nazistas aproveitaram a turbulência que tomou conta da nação para obter sucessivos triunfos nas urnas. Assim, quando o presidente Paul von Hindenburg apontou Hitler como chanceler, em janeiro, a base da Gestapo já estava pronta. Os nazistas só precisariam depurar os profissionais e aproveitar antigos métodos de inteligência, investigação e tortura para criar sua polícia secreta. O incêndio do Reichstag (o parlamento), em 27 de fevereiro de 1933, foi decisivo nesse processo. Pesquisadores ainda discutem se os nazistas atearam o fogo (é provável que sim) - mas é fato que usaram as chamas para culpar os adversários comunistas. Pressionado por Hitler, Hindenburg assinou o Decreto do Reichstag, que facultou a polícia a espiar as comunicações privadas e manter suspeitos sob " detenção preventiva " sem acusação específica. O Partido Nazista obteve 43,9% dos votos nas eleições parlamentares da semana seguinte e conseguiu aprovar a chamada Lei de Habilitação, que dava ao fubrer o direito de dispensar o aval do parlamento ou do presidente para governar. Logo foram abolidas as liberdades de expressão, de imprensa e de associação. Goring, que dirigia a força policial da Prússia desde fevereiro, já havia dispensado centenas de funcionários não alinhados como o ideário nazista. Eles foram substituídos, em geral, por integrantes das tropas paramilitares do partido, as SA e SS. O quartel general, em Berlim, em breve teria jurisdição sobre todo o país, absorvendo outros serviços de inteligência de cada estado, que também passaram por expurgos internos. Em novembro, uma lei isentou a polícia secreta da jurisdição do Ministério do Interior e deu aos agentes uma liberdade de ação inédita. " Cerca de 90% dos antigos agentes das polícias políticas permaneceram na Gestapo ", afirma o historiador Robert Gellately, autor de várias obras sobre o Reich. Segundo ele, os veteranos acabaram atraídos por uma espécie de " tentação totalitária ": o poder gigantesco adquirido pela instituição para controlar seus alvos. Suas demandas tinham prioridade sobre as de outras polícias. " A Gestapo reunia os investigadores de elite, encarregados de fazer valer as leis e os decretos que o regime considerava mais importantes: aqueles sobre raça e oposição política. " As primeiras vítimas foram os comunistas, social-democratas e demais adversários políticos. Dias após o incêndio, os nazistas ergueram 30 campos de concentração para os " inimigos ". Antes que o mês de abril terminasse, mais de 5 mil pessoas já estavam em detenção preventiva. Em 25 de maio, a polícia da Baviera informou que o Partido Comunista e todos os seus afiliados " haviam deixado de existir ". A Gestapo serviu também para vigiar e punir seus próprios pares. Nomeado ministro da aviação, Goring se viu compelido, em 1934, a entregar o controle da força a Heinrich Himmler, líder da SS, então à frente das polícias de toda a Alemanha, exceto a prussiana. Interessados em conter a influência da SA (mais numerosa e dirigida por Ernst Rohm), os dois usaram a Gestapo e a SS para executar centenas de " camisas pardas" (os membros da SA) em 30 de junho daquele ano - a Noite das Facas Longas. Rohm não sobreviveu ao dia seguinte. Não era raro que as investigações da polícia secreta servissem como arma na disputa de poder dentro do regime. Que o digam Werner von Blomberg e Werner von Fritsch. Em 1938, eles renunciaram aos mais altos cargos.
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