Textos críticos: " Muito já se escreveu sobre a 'produção artística' realizada no confinamento dos asilos e manicômios, ou a dos outsiders, marginais do circuíto das artes plásticas e do sistema da Cultura, sem, contudo, conferir-lhe um papel na História da Arte, porque esta produção desliza para outras significações. O esforço tem sido no sentido de determinar-lhes uma categoria - art brut, arte incomum, singuliers de l'art - posto que revelam a criatividade em estado puro, sem nenhuma sistematização ou disciplina, (...). Entretanto, o interesse na obra de Bispo reside no conjunto da produção com seu método de trabalho, que consiste em uma metáfora romântica sobre ser artista: ele, no interior de sua cela, desfiava seus uniformes de interno para obter fios azuis desbotados com os quais bordava sua cartografia, mumificava os objetos do seu cotidiano. O artista desnuda-se, despoja-se para dar existência à obra, assinalando a transitoriedade do corpo em oposição à permanência do trabalho. " Ivo Mesquita " As assemblages reúnem objetos geralmente industrializados, produzidos em série, ligados ao consumo e à cultura de massa. Em cada painel uma linha de objetos: canecas de alumínio, botões, garrafas de plástico com papel picado, ferragens, sabonetes, colheres, sapatos, botas de borracha, material elétrico e eletrônico, objetos rituais. Às vezes os objetos localizados num mesmo suporte diferem entre si, mas as texturas e os materiais se assemelham. Vistas em conjunto, essas acumulações fazem lembrar um bazar ou loja de ferragens. São como mostruários e, não por acaso, Bispo denominava-as 'vitrines'. (...) Reuniu também em suportes precários objetos de madeira nua, às vezes com rala mão de cal, que lembram as merzbilders de Schwitters. Objetos isolados. duchampianos, eu diria, de decifração ainda difícil, com forte carga simbólica, ou simples ente de encantadores, como estas pequenas caixas na qual papéis recortados e multicoloridos são como notas musicais. " Frederico Morais " A extrema originalidade que reveste a obra desses criadores é fruto de vários fatores: a quase ausência de formação acadêmica, a soltura em relação ao espírito do tempo, o afastamento do convívio social, etc. Nessa solidão ontológica reside a certeza de Fernando Diniz quando transforma em arte velhos lençóis, ou a determinação de Bispo do Rosário ao reunir objetos banais na Colônia Juliano Moreira - um dos depósitos terminais de seres humanos na trajetória de internações psiquiátricas - , transformando-os em instalações surpreendentes. (...). Um ser que não teve ateliê, nem incentivo por parte do meio, construiu uma obra impulsionado por seu interior, de uma extrema contemporaneidade, rompendo e pondo em questão os próprios meios de que a arte se faz. " Luiz Carlos Mello " Se é um manto ou não, pode parecer uma questão sem importância. Não obstante, a designação 'manto' encobre a natureza do arquétipo social sobre a qual Bispo do Rosário elaborou. Esta obra nasce da imitação de uma peça do vestuário da nobreza: parte da roupa de um rei, ou de um general do exército real. Só o paletó interessa, pois nele se concentram os elementos simbólicos ostentatórios de poder e nobreza, como dragonas, bordados, condecorações. (...) o que temos aqui é a apropriação pelo artista de um objeto-símbolo que a seus olhos traduz riqueza, beleza, nobreza. (...). Vista deste ângulo, esta obra de Bispo do Rosário é, como expressão artística. Uma manifestação surpreendente por sua originalidade e força semântica. " Ferreira Gullar
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