Comentário crítico: O passado de Arthur Bispo do Rosário é praticamente desconhecido. Sabe-se apenas que era negro, marinheiro, pugilista, lavador de ônibus e guarda-costas. Nas vésperas do Natal de 1938 é internado no Hospital Nacional dos Alienados , na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, após um delírio místico. Com diagnóstico de paranóico-esquizofrênico, é transferido no ano seguinte para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Entre muitas permanências e saídas, vive mais de 40 anos na Instituição, onde executa a maior parte de sua obra. Os trabalhos de Bispo diversificam-se entre justaposições de objetos e bordados. Nos primeiros, utiliza geralmente utensílios do cotidiano da Colônia, como canecas de alumínio, botões, colheres, madeira de caixas de fruta, garrafas de plástico, calçados; e materiais comprados por ele ou pessoas amigas. Para os bordados usa os tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e consegue os fios desfiando o uniforme azul de interno. Prepara, com seus trabalhos, uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo Final. Nesse dia se apresentaria a Deus, com um manto especial, como representante dos homens e das coisas existentes. O manto bordado traz o nome das pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. Bispo faz também estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quais borda desenhos, nomes de pessoas e lugares, frases com respeito a notícias de jornal ou episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia. A criação das peças, para ele, é uma tarefa imposta por vozes que dizia ouvir. No início da década de 1980, com as questões levantadas pela arte contemporânea com a anti-psiquiatria e as novas teorias sobre a loucura, os trabalhos de Bispo começam a ser valorizados e integrados ao circuíto de arte. Em 1980, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, sobre a situação da Colônia Juliano Moreira, mostra suas obras, agrupadas no quartinho em que vive. No mesmo ano, o psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart realiza o filme O Prisioneiro da Passagem - Arthur Bispo do Rosário. Com a divulgação, veio o reconhecimento artístico das obras, que contribui para a sua participação. em 1982, na mostra A Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro - MAM-RJ, com trabalhos de presidiários, menores infratores, idosos e internos da Colônia. Posteriormente é realizada sua primeira exposição individual, também no MAM-RJ. O crítico de arte Frederico Morais escreve sobre seu trabalho, ligando-o à arte de vanguarda, à arte pop, ao novo realismo e especialmente à obra Marcel Duchamp (1887-1968). Em 1995, com uma vasta seleção de peças, Bispo representa o Brasil na Bienal de Veneza e obtém reconhecimento internacional. Sua obra torna´se uma das referências para as gerações de artistas brasileiros dos anos 1980 e 1990.
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