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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Escravidão - parte 2



Esse povo marcado ia tocando a vida em frente e se misturando à cultura brasileira.  " A alforria e a miscigenação geraram uma população mestiça livre que gradualmente se tornou, já na época colonial, quase tão numerosa quanto a escrava, tendo limitações, entretanto, no exercício do sacerdócio, na tropa de primeira linha ou no preenchimento de cargos públicos ", escrevem os pesquisadores Ida Lewkowicz, Horácio Gutiérrez e Manolo Florentino no livro Trabalho Compulsório e Trabalho Livre na História do Brasil.  Segundo eles, em 1872 pardos e mulatos livres já eram maioria, ou 42% da população: 4,2 milhões, em comparação a 1,5 milhão de escravos.  Ou seja, os negros estavam em vastas áreas rurais e ocupavam as ruas das principais cidades da colônia.  No cenário posterior à Abolição, surgiram tentativas de estabelecer novas relações de trabalho para esse grande contingente.  " O fim da escravidão era uma possibilidade de recomeço ", escreveu  Ubiratan Castro de Araújo.  Ele cita o caso raro do advogado Leovigildo Filgueiras, que chegou a criar uma entidade para intermediar contratos entre ex-escravos e novos patrões, a Sociedade Treze de Maio.  Mas em vão: " Nem mesmo essa tentativa de precoce terciarização (criação de um setor terciário, de serviços) funcionou.  Continuaram os favores, as obrigações e as clientelas. "  Outra experiência foi a Guarda Negra - segundo o historiador, um movimento político de apoio à princesa Isabel e ao Terceiro Reinado, que pretendia arregimentar simpatia popular e abrir frentes de trabalho onde antes só havia brancos.   " Assistimos então pelos jornais baianos ao debate entre negros da Guarda e negros republicanos, que identificavam a monarquia com a escravidão.  Uma vez vitoriosa a República em 1889, a Guarda Negra foi suprimida e os seus líderes mais ativos banidos para a Amazônia, como foi o caso do baiano Manuel Benício dos Santos, conhecido como Macaco Beleza."  A sociedade branca não queria perder seus privilégios.  E tratou de reforçar todos os comportamentos que distanciassem  os negros na hierarquia social e na divisão do trabalho.  Salvador, a terceira cidade com o maior número de negros no Brasil no século 19 (a primeira era o Rio), exemplificou a recusa: " Após 1888, a sociedade baiana tornar-se um corpo assentado, fechado.  Suas camadas superiores assumem uma consciência, aguda como nunca antes, de tudo do que pode separar o homem branco do preto ou do mestiço.  A cor da pele, antes 'esquecida', tornar-se, entre ricos e pobres, uma fronteira nítida.  O branco da terra que não teve sucesso  econômico passa a ser um negro.  Nas relações humanas fortalecem-se todas as regras da humildade, da obediência e da fidelidade dos séculos de escravidão ", afirma Kátia Mattoso.  No caso dos negros dispensados em Itaparica, por exemplo, a pesquisadora diz que " muitos atravessam a baía, refugiam-se na grande cidade, acrescentam-se a uma população marginal que tem todas as dificuldades do mundo para arranjar trabalho. "   O Brasil foi o país de maior e mais longa escravidão urbana.  Nas cidades, o escravo tinha mais independência do que no campo.  " Ele circulava nas ruas, estabelecia vínculos com homens livres humildes ", escreveu Kátia.  Havia mais chances de encontrar membros da mesma etnia, em festas e confrarias religiosas realizadas em praça pública, e a presença do senhor era menos opressiva.  Os escravos, mestiços, forros, libertos, circulavam fornecendo serviços, e podiam ser alugados.  Os acordos com os senhores também eram flexíveis: havia escravos que recebiam somente comida e roupa, outros, " escravos de ganho ", repassavam ao senhor uma porcentagem dos pagamentos feitos pelos seus clientes.  Eles vendiam doces, refrescos, frutas, aves e ovos, roupas, chaleiras, velas, estatuetas de santos, poções de amor.  Ou atuavam nos demais ofícios, como barbeiros, ferreiros, quitandeiros, parteiras, doceiras, mascates, lixeiros, carregadores.  Transportavam tudo nos ombros e nos braços, até pessoas - brancos brasileiros e estrangeiros acomodados em cadeirinhas almofadadas.  O dinheiro acumulado na prestação desses serviços podia um dia comprar a carta de alforria.  Sabendo disso, os senhores renovavam as exigências na negociação.  

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