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Vou por onde a arte me levar.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Parte 1 - Aleijadinho, o profeta da alma brasileira - Por Carlos Cardoso Aveline.



A presença sutil de Aleijadinho, 190 anos depois de sua morte, ainda é perceptível em Ouro Preto.  As velhas casas, ruas e morros desse município que é patrimônio da humanidade, preservam a atmosfera do século 18 e são um poderoso centro de amor pelas coisas do Brasil.     Sob a aparência simples de belos objetos de arte, as obras do artista barroco Aleijadinho desafiam o tempo como lições de vida e expressões de sabedoria.   A vasta herança deixada por Antônio Francisco Lisboa tem muito a ensinar no século 21 porque é multidimensional.   Seu legado não está apenas nas igrejas e santuários de Minas, mas inclui também a tradição oral e os documentos históricos.   Pode ser entendido de diferentes formas, e ganha novos significados à medida  que o tempo passa e uma geração sucede à outra.  .   Escultor e arquiteto do século das luzes, Aleijadinho viveu o conflito entre o sagrado e o profano.   Ele combinou esforço e inspiração, talento e tenacidade, imaginação e teimosia - e desse modo conseguiu ser maior que seu sofrimento pessoal.  Para um artista, como para um místico, o infinito está dentro do que é finito.   A missão da arte é revelar a presença do eterno nas coisas passageiras.  Ela quer fazer com que o espírito floresça no corpo, ou que a luz surja no mundo, e Aleijadinho viveu intensamente esse combate.  Assim, ajudou a formar a essência do que há de melhor na alma brasileira.   É verdade que vários dados da sua vida são imprecisos e sua biografia está envolta em lendas.   Mas há algumas informações seguras.   Antônio Francisco foi filho natural de Manuel Francisco Lisboa, mestre carpinteiro bem conhecido em Vila Rica do Ouro Preto.   É quase certo que ele nasceu em 1738, embora seu principal biógrafo dê uma data errada para o nascimento: 1730.  Tampouco há um retrato confiável de Aleijadinho.   Por sua origem humilde, aquele genial artista mulato não podia ser membro da elite e não merecia ser retratado.   Além disso, sua fisionomia deformada era motivo suficiente para que ele próprio evitasse retratos.  O biógrafo Rodrigo Bretas conta que ele aprendeu desenho, arquitetura e escultura nas escolas práticas do seu pai e do desenhista João Gomes Batista.   Com cerca de 40 anos, Antônio teve um filho a quem deu o nome de Manuel Francisco Lisboa, em homenagem a seu pai.   Sabe-se que até essa época o artista tinha uma vida cômoda e boa saúde.   Gostava de bailes, danças e comida farta.  Mas Antônio Francisco vivia uma encruzilhada:  como optar entre a beleza sagrada e a beleza mundana...As ilusões ficam mais forte quando erguemos o olhar para o mundo divino.  O dilema de Antônio, inicialmente agradável, foi descrito no Romanceiro do Aleijadinho.   Os tempos fáceis terminaram em 1777, quando o carma trouxe as moléstias físicas.

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