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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Escravidão - parte 3, final




Uma escrava costureira, libertada em 1728, aceitou continuar servindo de graça a sua senhora.  E o mulato Isidoro Baptista teve a liberdade prometida para " uma hora antes da morte " de seu senhor.  Na década de 1880, sentindo o fim da escravidão, muitos senhores emitiram dezenas de alforrias de uma só vez, sob a condição de que os escravos trabalhassem mais sete anos.   Nas cidades, ficava difícil, mas possível, comprar a alforria.  Nas fazendas de café ou nos canaviais, contudo, era mais raro.  Os engenhos de açúcar impunham uma rotina brutal.  Durante a safra, eles funcionavam por até 20 horas por dia, com 80 a 100 pessoas na lida, a maioria homens africanos.  Entre plantar, limpar, colher e transportar, as funções eram distribuídas de modo que cada escravo cumprisse uma parte, mas só o engenho fizesse açúcar.  Isso mesmo, no Brasil Colônia já havia uma espécie de " fordismo " tropical.  Surgem cargos como mestre de açúcar e caldeireiro, que podiam ganhar recompensas e até salários.  Escravos mulatos ou nascidos no Brasil, conhecidos como crioulos, eram favorecidos na disputa desses postos, em relação aos africanos, vindos, principalmente, da Costa da Mina, noroeste do continente, e região de Angola.  " A mão de obra escrava foi a força motriz dos principais ciclos econômicos do país ", afirma Gustavo Acioli, doutor em História Econômica pela USP.   Em 1700, um negro adulto (de 14 a 45 anos) custava cerca de 100 mil réis.   Mas o valor variou conforme a demanda nos vários setores, em especial o açúcar, algodão e café.  Segundo afirma Stuart Schwartz, historiador da Universidade de Yale, no livro Escravos, Roceiros e Rebeldes ", o que os agricultores ofereciam como incentivos, para alcançar seus objetivos, podia ser interpretado pelos escravos como uma oportunidade que talvez lhes melhorasse a vida. "  Os escravos do açúcar tinham possibilidades mínimas de conquistar algum benefício, mas se agarravam a essas chances, submetidos à péssima condição que limitava sua expectativa de vida, no fim do século 18, a 23 anos, em média.   As punições incluíam o chicote, as máscaras de flandres, o tronco, entre outras, mas eram raras, porque afetavam o rendimento do escravo e, de quebra, o do engenho.  A situação dos escravos não era a mesma em todo o país.   No século 18, os homens trazidos para procurar fortunas de ouro e diamantes no leito dos rios de Minas Gerais levavam uma vida bem diferente daquela dos engenhos de cana.  Uma mina empregava no máximo 30 escravos.  Curvado, com os pés na água, o negro procurava as sonhadas pedras por horas a fio, parando somente para comer e fumar.  Mas, se vivia mais isolado, o mineiro tinha mais mobilidade.  " A mineração, mais que outros setores econômicos, propiciou aos escravos maior acesso à alforria e alguma mobilidade social graças à possibilidade de reunir um pecúlio ", escrevem os autores de Trabalho Compulsório e Trabalho Livre na História do Brasil.  Uma única pepita podia comprar a liberdade.   Isso estimulou outra característica peculiar da escravidão brasileira - a existência dos senhores negros, libertos que conseguiam acumular patrimônio e ter seus próprios escravos.  Embora fosse a minoria da minoria (no Rio ou em Salvador, as alforrias não passavam de 2% da população), isso acontecia, especialmente nos centros urbanos e nas minas.  Em 1888, o Brasil se tornou o último país do Ocidente a abolir a escravidão.  E os ex-escravos tiveram de se virar para serem absorvidos pela sociedade e sobreviverem.  Dependendo da área em que atuavam - nas minas, na lavoura, nos ofícios urbanos - foram integrados de forma diferente ao mercado.  Alguns trabalhadores da cidade tiveram a grande vantagem de dominar um ofício e, em alguns casos, contar com uma clientela.  No campo ou na capital, surgiram os contratos que repetiam o clientelismo, o compadrio, quando não a própria violência física.  " O caso exemplar é das escravas domésticas, que mantiveram suas relações com as patroas ", afirma a historiadora Ynaê Santos, pesquisadora da escravidão urbana.  Finalmente, muito dessa história se perdeu.  Então ministro da Fazenda, Rui Barbosa mandou queimar, em 14 de dezembro de 1890, os registros de posse e movimentação patrimonial envolvendo todos os escravos, o que foi feito ao longo de sua gestão e de seu sucessor.  A razão alegada para o gesto teria sido apagar " a mancha " da escravidão do passado nacional.   Mas especialistas afirmam que Rui Barbosa quis, com a medida, inviabilizar o cálculo de eventuais indenizações que vinham sendo pleiteadas pelos antigos proprietários de escravos.  Apenas 11 dias depois da Abolição, um projeto de lei foi encaminhado à Câmara, propondo ressarcir senhores dos prejuízos gerados com a medida.   Mas, mesmo sem os papéis, a escravidão deixou marcas duradouras e traços para sempre visíveis na História do país.  Saiba mais na Revista Aventuras na História - para viajar no tempo e www.educarparacrescer.com.br

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