Hitler e a grandeza histórica - Hitler Um Estudo = Joachim C. Fest __ Eis a pergunta: se devemos qualificá-lo de " grande", pois tal história conhecida não registra outro fenômeno que se assemelhe... Ninguém suscitou tamanho entusiasmo e histeria, e tão grande esperança de salvação; ninguém despertou tanto ódio. Nenhum outro, num percurso solitário que durou apenas poucos anos, acelerou o curso do tempo e modificou as condições do mundo de maneira, por assim dizer, inacreditável, como ele o fez; ninguém deixou atrás de si tamanho rastro de ruínas. Só a coalizão de quase todas as potências mundiais, numa guerra que durou quase seis anos, extinguiu-o da face da Terra: nas palavras de um oficial da Resistência Alemã abateu-o " como a um cão raivoso ". A grandeza particular de Hitler está essencialmente ligada a esse caráter excessivo: uma enorme erupção ele energia a derrubar todos os critérios em vigor. É certo que o gigantesco não corresponde , necessariamente, a uma grandeza histórica e que também o trivial tem sua força. Mas ele não foi apenas gigantesco ou trivial. A erupção que desencadeou acusava quase em cada etapa, até as semanas de guerra, sua vontade diretiva. Em inúmeros discursos lembrou, em tom admirativo, o início de sua carreira, quando " nada tinha atrás ele si, nada, nenhum nome, ou poder, ou imprensa, nada mesmo, absolutamente nada ", e como, só pela própria força , " de pobre diabo " havia chegado ao domínio da Alemanha e, logo, de uma parte do mundo: " Foi uma coisa prodigiosa! " Com efeito, de maneira sem igual, tinha-se ele feito sozinho, e era tudo de uma vez: mestre de si mesmo, organizador de um partido, criador de uma ideologia estrategista e a imagem demagógica de salvação, chefe, estadista e, durante um decênio, o eixo do mundo. Havia refutado o axioma segundo o qual as revoluções devoram os seus filhos; porque era, como se dizia, " O Rousseau, o Mirabeau, o Robespierre e o Napoleão de sua revolução, era o seu Marx, o seu Lenin, o seu Trotski e o seu Stalin. Pelo caráter e maneira de ser, situava-se, talvez, muito abaixo da maioria dos citados: todavia, alcançou êxito onde nenhum deles alcançara: dominou a revolução em cada fase, até mesmo no momento da derrota. Isso demonstra o seu grande conhecimento das forças que conjurara. Possuía, ademais, extraordinária acuidade para decidir quais as forças que podia mobilizar e não se deixava induzir a erro de acordo com as tendências dominantes. A época de sua entrada na política situou-se inteiramente sob o signo do sistema burguês liberal, mas ele soube captar as resistências secretas e, por meio de manobras ousadas ou mesmo extravagantes, incorporou-as ao seu programa. Seu comportamento foi considerado paradoxal sob o ponto de vista político, e o arrogante espírito de seus contemporâneos, durante anos, não o levou a sério. Sua força extraordinária repousava, em grande parte, no fato de que, raciocinando arrojada e sutilmente, era capaz de construir castelos no ar - foi isso que um dos seus primeiros biógrafos quis dizer, ao publicar em 1935, na Holanda, uma obra com o título Don Quichotte von Munchen. Dez anos antes Hitler, político bávaro fracassado, esboçava, em seu quarto mobiliado de Munique, os arcos de triunfo e cúpulas de uma ideologia aparentemente extravagante. Apesar do desmoronamento de todas as esperanças, após a tentativa de putsch de novembro de 1923, não voltou atrás em nenhuma de suas palavras nem minorou nenhum de seus desafios ou subtraiu algum de seus intentos de dominar o mundo. Naquela época, todos haviam objetado - reparou mais tarde - que ele não era senão um fantasista: " Diziam sempre que eu estava louco ". Mas, apenas alguns anos depois, tudo o que quis transformou-se em realidade ou em projeto realizável, e aquelas forças que pretendiam duração e incontestabilidade - a democracia e o estado de partidos, os sindicatos, a solidariedade internacional dos trabalhadores, o sistema de alianças europeias e a Liga das nações __ estavam em decaída. E Hitler perguntou quem é que tinha razão: o fantasista ou os outros.
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