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terça-feira, 3 de outubro de 2017

Hitler por ele mesmo - parte 3

... e ainda hesitam em chamar Hitler de " grande ".   As feições criminosas de sua aparência psicopata são as que menos suscitam dúvidas.   Em realidade, a história mundial não palmilha o solo " em que reside a moralidade ", e o escritor Jakob  Burckhardt que escreveu em célebre ensaio publicado no Weltgerschichlichen Betrachtungen fala, também da  "extraordinária desobrigação de se conformar às leis morais costumeiras" legadas, pela consciência, às grandes personalidades.  O fenômeno do grande homem é antes de tudo de ordem estética, e é extremamente raro que seja também de natureza moral; e ainda que possa muitas vezes desobrigar-se neste campo, naquele nunca poderá.  Diz um velho aforismo de Estética que aquele que não se presta a ser herói será um ser desagradável, ainda que possua excelentes qualidades.  Supõe-se __ e não faltarão evidências para tal __ que Hitler correspondia justamente, e em larga escala, a esse ser desagradável; os inumeráveis traços lúgubres que lhe eram instintivos, a impaciência, a sede de vingança, a falta de generosidade, o materialismo chão e nu que apenas admitia a autoridade e considerava tudo o mais " disparate " __ todas essas características de patente vulgaridade emprestavam à sua imagem um quê de repulsiva trivialidade que está em desacordo com a noção tradicional de grandeza.   Escreveu Bismarck em carta que " aquele que se impõe aqui na Terra tem parentesco com o anjo caído, que é belo mas não encontra a paz, grande em seus planos e esforços mas não alcança o sucesso, orgulhoso e triste ": a distância entre essas noções é incomensurável.   O próprio conceito de grandeza, no entanto, ter-se-á tornado problemático.   É verdade que Thomas Mann, num dos ensaios políticos crivados de pessimismo que escreveu durante o tempo em que esteve emigrado, fala de " grandeza " e de " gênio ", a propósito de um Hitler triunfante: mas fala de" grandeza desfigurada " e em " gênio num plano inferior ": um conceito que se auto-destrói, tendo em vista tais contradições;   Possivelmente tal conceito seja também determinado por uma interpretação histórica relativa a uma época passada, prendendo-se muito mais aos protagonistas e ao conteúdo do processo histórico, desprezando o vasto emaranhado de forças.   É essa realmente, a concepção divulgada.  Ela afirma a medíocre importância da personalidade face aos interesses, conveniências e conflitos materiais dentro da sociedade e vê confirmada a sua tese, de maneira irrefutável, justamente pelo exemplo de Hitler: como "vassalo", senão "espadachim" do grande capital, organizou, de cima, a luta de classes e, em 1933, sub-julgou as massas ávidas de auto-determinação política e social, antes de se prestar aos objetivos de expansão de seus comanditários, desencadeando a guerra.   Hitler aparece em inúmeras dessas teses como basicamente mutável, " o mais comum dos manequins ", como o descreveu, já em 1929, um dos primeiros analistas do fascismo dos partidos de esquerda; de qualquer forma, não viram nele senão um fato entre vários outros e, de forma alguma, uma causa determinante.  Em verdade, essa objeção tem em mira negar a possibilidade de um conhecimento histórico pela interpretação de relato biográfico.  Alega-se que nenhum indivíduo pode representar o processo histórico com todas as suas tramas e contradições, situado sobre inúmeros planos de tensão em constante mudança, ainda que de maneira próxima da autenticidade.   A rigor, a historiografia personalista apenas continua a tradição da antiga literatura cortesã de mesuras, e o ano de 1945, com a derrocada do regime, terá quando muito trazido novos presságios, conservando métodos basicamente idênticos.  Hitler permaneceu como a força irresistível, determinadora de tudo, e " apenas mudou de qualidade: o libertador transformou-se em corruptor demoníaco ".

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