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sábado, 20 de maio de 2017

O Livro de Ouro das Ciências Ocultas - A Decadência da Magia e a Cisão entre Ciência e Religião. Parte 27

O padrão arquetípico do domínio do espírito é antiquíssimo.   Já aparece na gnose dos primeiros séculos da cristandade.   No entanto, se relembrarmos o duelo de feitiçaria entre Simão, o Mago e o apóstolo Pedro, veremos que já então, segundo a teoria gnóstica, o Espírito Santo era considerado como pertencente ao gênero feminino.   Para Simão, o Espírito Santo teria sido gerado por uma emanação do Pai do Mundo, como a deusa Atena, saída da cabeça de Zeus, pai dos deuses gregos.   Sob este ângulo, o Espírito Santo seria a filha de Deus.   Para a maioria dos gnósticos cristãos, no entanto, dá-se exatamente o contrário.   Para eles, o Espírito Santo é Sofia, a sabedoria divina.  Esta vem a ser quase a mãe de Deus, o que faz lembrar a influência dos Vedas bramânicos e  doutrinas secretas budistas.  A interpretação de ver no Espírito Santo a mãe de Deus baseia-se no fato de ele servir-se da mulher - no caso, a Virgem Maria - como instrumento.   Porém, o Espírito Santo é também o espírito de Deus, que no início da Criação paira sobre as águas.   E dele nasce Lúcifer ou Satanael, o primeiro filho de Deus.  Este seria o verdadeiro criador e senhor do mundo.   Lúcifer é o que traz a luz e a consciência.   Porém com o consciente, entra também no mundo o Mal, pois só através do consciente pode haver diferenciação entre o bem e o mal.   Portanto, Cristo aparece como segundo filho de Deus, a fim de redimir a humanidade daquele senhor do mundo que incentiva o consciente e o mal.   Os gnósticos, e posteriormente os albigenses, assim como os Templários, compreenderam o problema suscitado com isto.   Para as religiões antigas, o mal não representava problema de monta.  Fazia parte da natureza divina.   Segundo os princípios da equivalência mágica, faziam-se sacrifícios à Grande Deusa para contornar o mal.   Nisto estavam compreendidos os rituais de iniciação, por vezes bastante cruéis.  Isto se modificou com o Cristianismo, o Filho de Deus faz o auto-sacrifício para redimir os homens de sua instintividade e agressividade.   No entanto, o mal não desapareceu do mundo.   Os Pais da Igreja atribuíam o mal ao demônio.  Só que, de acordo com seus ensinamentos, Deus é Onipotente e Onisciente.   Em sua manifestação como Cristo, representa o amor universal.   Por que então este Deus Onipotente permite o mal (pergunta).   Por que Cristo continua a suportar o domínio de seu antagonista Lúcifer (pergunta).   Este dilema ocupou inúmeros teólogos e filósofos cristãos.   Mas ainda não foi esclarecido a contento.  Os adeptos dos movimentos de renovação anteriormente citados, inclusive os Templários, tentaram resolver o problema aceitando a soberania de Lúcifer.   Procuravam conquistar-lhes as boas graças por meio de sacrifícios e rituais.   Para a Igreja, isto era inaceitável, pois contrariava todos os dogmas básicos do cristianismo - além de ameaçar o poderio do clero.   A Igreja revidou com dogmas nais severos e uma luta declarada contra Satã-Lúcifer.   Incluía nisto todas as doutrinas e cultos que pudessem parecer ilusionismo diabólico.  Nisto reside a raiz da futura obsessão contra as bruxas, conforme se deduz dos processos aos quais foram submetidas.   As doutrinas heréticas que diziam Satã-Lúcifer senhor do mundo terreno, foram divulgadas entre o povo.  Para os homens e mulheres entendidos em curas naturais, os representantes da magia popular, aquilo parecia muito óbvio.   Conheciam-se mutuamente e organizavam reuniões periódicas para troca de ideias e discussão de questões profissionais.   Nos processos contra as bruxas, estas reuniões passaram a ser denominadas missas satânicas ou o inferno sabá das bruxas.  Aquelas mulheres e homens conheciam o misterioso efeito das drogas obtidas de plantas que continham alcalóides, das quais preparavam elixires de amor.   Em suas reuniões noturnas, faziam uso próprio deles.   As receitas dos chamados unguentos das bruxas são conhecidas.   Trata-se de uma mistura de beladona, datura e meimendro, com a adição de diversas gorduras animais.   Em muitas receitas as bruxas acrescentavam ainda, como ingredientes especiais, papoula, cicuta e leite de loba.  Este unguento era esfregado na área do coração e nas regiões genitais.   Seu efeito se baseia principalmente nos alcalóides atropina, iosciamina e escopolamina, contidos nos ingredientes empregados.  O uso do unguento das bruxas altera a percepção, que se torna romântico-sonhadora.   Provocava igualmente experiências mágicas de vôo e fantásticas alucinações eróticas.   Influenciando os centros motores do sistema nervoso central, o efeito da droga incrementa a potência genital e aumenta a excitabilidade dos nervos dos órgãos sexuais.  Já Giambattista della Porta ( 1538-1615 ), sábio italiano da Renascença e autor da Magia Naturalis, sabia disto.   Auto-experiências por parte de pesquisadores modernos, entre eles Will-Erich Peuckert, perito em ciências ocultas, confirmaram o que foi dito aqui.  Estas experiências constataram, aliás. que os produtos vegetais naturais tinham efeito muito mais intenso do que os alcalóides químicos fornecidos pela moderna indústria farmacêutica.   As missas negras, o vôo mágico com a vassoura das bruxas, o jantar festivo com a presença de Satã, que aparece como um enorme e chifrudo bode, e a orgia erótica subsequente podem ser explicadas devido ao efeito alucinatório das drogas consumidas.  No entanto, o culto a Satã, era uma realidade.   O culto ao demônio era praticado como uma espécie de anticlericalismo.   Em seu livro Culto a Satã e Missa Negra, de Gerhardt Zacharias fala de um renascimento da antiga religião de Dioniso, na qual o demônio sob a figura de bode, encarna o grande Pã.   Ele interpreta a unção das bruxas-noviças com unguento das bruxas como ritual de iniciação no reino lunar matriarcal e no culto a Dioniso.   Sua obra contém farta documentação original de fontes literárias e protocolos das atas dos processos contra as bruxas, como provas do culto a Satã.   Este culto precisa ser encarado como uma reação do povo contra a dessacralização da natureza e a desvalorização à qual a religião submeteu a mulher, que já não tem a função alguma na liturgia cristã.   A discriminação da sexualidade natural faz despertar o desejo de experiências extáticas que permitam uma fuga da rotina do dia-a-dia, e, por meio do vôo mágico, a evasão para uma dimensão supra-sensorial.   Ocorrências naturais ameaçadoras, como a peste e outras epidemias avassaladoras, que nem o ascetismo recomendado pela Igreja nem as procissões de penitentes conseguiam debelar, certamente fizeram aumentar esta necessidade por um estado de êxtase mágico e encantado.  

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