Calendário 2019

Calendário 2019
Calendário 2019

Vou por onde a arte me levar.

sábado, 20 de agosto de 2016

" Os Subterrâneos - Jack Kerouac " - Parte 3

Temos aqui verdadeiros jorros de linguagem, blocos compactos de texto misturando relato, evocação e reflexão, indo e voltando no tempo dentro dos mesmos longos parágrafos.     Valendo o paralelo com o jazz, este é um livro com uma batida acelerada e muito " swing ".      E um exemplo bem-sucedido do que ele queria fazer: levar para o papel o próprio fluxo de consciência, a sucessão das imagens e ideias.     E, principalmente, curtir o som e o ritmo das palavras, o valor fonético e prosódico da linguagem falada.     Ele procurou criar uma literatura orgânica e animada, um texto sobre a vida que fosse vivo e pulsante.     Ginsberg tem razão ao falar em " ioga da palavra ", referindo-se à fruição das palavras como ritmo e sonoridade, desligada dos seus sentidos.     E também está certo ao mostrar como Kerouac trazia sua " pessoa " para o texto, integralmente.      Não só a mente pensante, a consciência reflexiva, mas a pessoa como totalidade, suas paixões, emoções, nervos e carne.      Kerouac tinha tinha plena consciência disso.      No começo do livro, ao falar da sua " egomania "como dificuldade para narrar ( em uma narrativa escrita em três noites...), ele está ironizando a noção de uma literatura " impessoal ", derivada de Eliot e dominante entre os formalistas da época.     Sua contribuição foi decisiva para recuperar o sujeito, a fala do narrador e a primeira pessoa na criação literária, com reflexos inclusive no jornalismo participante, praticado a partir dos anos 60 e criado por Tom Wolfe.      Por recolocar o sujeito na sua integridade, Os Subterrâneos é um livro que tematiza o amor e no qual está bem presente o erotismo.      É coerente a inclusão nele de uma homenagem a Wilhelm Reich e sua teoria do orgasmo, na época ainda propostas muito avançadas.      Junto com Tristessa ( escrito em 1955 a 1956 ) e Visions of Cody ( de 1951 ), é um dos seus livros mais ousados como tema.     Tristessa é a história do caso amoroso com uma moça mexicana, traficante de drogas, o contato com seu amigo Bill Garver em Cidade do México.     Visions of Cody tem, como núcleo da narrativa, a relação a três envolvendo Neal Cassady e sua mulher.     Em Os Subterrâneos, o caso é com Mardou fox, negra, drogada e pirada, ex-internada e sob tratamento, desorganizada e caótica.    Nesses dois livros ( Os Subterrâneos e Tristessa ), ele entra fundo no tema das drogas.     Seus personagens tomam Benzedrina, puxam fumo e, como pano de fundo, comparece um drogado ilustre, William Burroughs ( Frank Carmody ) e é evocada sua mulher Joan ( Jane ), viciada em benzedrina e morta acidentalmente ( ou não ) pelo marido com um tiro na testa no México, em 1951.     As drogas atraíam Kerouac mais como tema  que como material de consumo.  Exceto eventuais fumadas ( como as deste livro e do final de On the Road ) e benzedrina como estimulante, ele preferia mesmo a bebida ( vinhos licorosos, principalmente ), que acabou por destruí-lo, transformando-o em alcoólatra  irrecuperável e provocando a hemorragia no estômago que o matou em 1969 na Flórida, aos 47 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá querido (a) leitor, seu comentário é muito importante. Este espaço é seu. Lembre-se: Liberdade de expressão não é ofender. Vamos trocar ideias, as vezes podemos não concordar, é natural; afinal tudo depende da visão de cada um; mas respeitar é fundamental, isso é uma atitude inteligente. O que vale mesmo é a troca de informação e com educação. Por favor: Leia antes de fazer seu comentário, os comentários do blog são moderados, só publique comentários relacionados ao conteúdo do artigo, comentários anônimos não serão publicados, não coloque links de artigos de seu blog nos comentários, os comentários não refletem a opinião do autor. Espero que goste do blog, opine, comente, se expresse! Vale lembrar que a falta de educação não é aceito.