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sábado, 20 de agosto de 2016
" Os Subterrâneos - Jack Kerouac " - Parte 3
Temos aqui verdadeiros jorros de linguagem, blocos compactos de texto misturando relato, evocação e reflexão, indo e voltando no tempo dentro dos mesmos longos parágrafos. Valendo o paralelo com o jazz, este é um livro com uma batida acelerada e muito " swing ". E um exemplo bem-sucedido do que ele queria fazer: levar para o papel o próprio fluxo de consciência, a sucessão das imagens e ideias. E, principalmente, curtir o som e o ritmo das palavras, o valor fonético e prosódico da linguagem falada. Ele procurou criar uma literatura orgânica e animada, um texto sobre a vida que fosse vivo e pulsante. Ginsberg tem razão ao falar em " ioga da palavra ", referindo-se à fruição das palavras como ritmo e sonoridade, desligada dos seus sentidos. E também está certo ao mostrar como Kerouac trazia sua " pessoa " para o texto, integralmente. Não só a mente pensante, a consciência reflexiva, mas a pessoa como totalidade, suas paixões, emoções, nervos e carne. Kerouac tinha tinha plena consciência disso. No começo do livro, ao falar da sua " egomania "como dificuldade para narrar ( em uma narrativa escrita em três noites...), ele está ironizando a noção de uma literatura " impessoal ", derivada de Eliot e dominante entre os formalistas da época. Sua contribuição foi decisiva para recuperar o sujeito, a fala do narrador e a primeira pessoa na criação literária, com reflexos inclusive no jornalismo participante, praticado a partir dos anos 60 e criado por Tom Wolfe. Por recolocar o sujeito na sua integridade, Os Subterrâneos é um livro que tematiza o amor e no qual está bem presente o erotismo. É coerente a inclusão nele de uma homenagem a Wilhelm Reich e sua teoria do orgasmo, na época ainda propostas muito avançadas. Junto com Tristessa ( escrito em 1955 a 1956 ) e Visions of Cody ( de 1951 ), é um dos seus livros mais ousados como tema. Tristessa é a história do caso amoroso com uma moça mexicana, traficante de drogas, o contato com seu amigo Bill Garver em Cidade do México. Visions of Cody tem, como núcleo da narrativa, a relação a três envolvendo Neal Cassady e sua mulher. Em Os Subterrâneos, o caso é com Mardou fox, negra, drogada e pirada, ex-internada e sob tratamento, desorganizada e caótica. Nesses dois livros ( Os Subterrâneos e Tristessa ), ele entra fundo no tema das drogas. Seus personagens tomam Benzedrina, puxam fumo e, como pano de fundo, comparece um drogado ilustre, William Burroughs ( Frank Carmody ) e é evocada sua mulher Joan ( Jane ), viciada em benzedrina e morta acidentalmente ( ou não ) pelo marido com um tiro na testa no México, em 1951. As drogas atraíam Kerouac mais como tema que como material de consumo. Exceto eventuais fumadas ( como as deste livro e do final de On the Road ) e benzedrina como estimulante, ele preferia mesmo a bebida ( vinhos licorosos, principalmente ), que acabou por destruí-lo, transformando-o em alcoólatra irrecuperável e provocando a hemorragia no estômago que o matou em 1969 na Flórida, aos 47 anos.
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