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Vou por onde a arte me levar.

sábado, 20 de agosto de 2016

" Os Subterrâneos - Jack Kerouac " - Parte 4

Kerouac era uma personalidade dividida e isto se reflete na sua relação com mulheres.      Ele só conseguia dois tipos de relação.    Uma, breve, intensa e sensual, com figuras atípicas, marginalizadas e discriminadas como Mardou, Tristessa e a mexicana Terry de On the Road, outra, com alguém que fosse o prolongamento da sua mãe e da sua família, como Stella Sampas, com quem se casou em 1962 e viveu até o fim, ambos cuidando de " memere " Gabrielle, e que foi sua namorada de juventude em Lowell.      Seus dois casamentos anteriores não duraram, juntos, mais que um ano, o primeiro, de 1945, dois meses.     A mesma divisão aparece em outros aspectos da sua vida.    Ele sempre escolhia os extremos.    Ou a agitação das festas e reuniões Beat de Nova Iorque e San Francisco, as viagens frenéticas pelo país em companhia do Loquaz e acelerado Neal Cassady, ou então a reclusão e o silêncio, como no final de Dharma Bums ( 1957), relato do seu retiro como eremita por dois meses em Desolation Peak.     O tema é retomado em Desolation Angels ( 1956 ), escrito antes de Dharma , mas relatando fatos posteriores, na sequência da mesma peregrinação budista.     Ele era mesmo um solitário, e não é por acaso que um dos seus livros de viagem se chama Lonesome Traveler ( 1960 ), Viajante Solitário.     A fama, depois de 1957, o perturbava tremendamente.     De um lado, não se sentia ajustado à margem de arauto Beat, ao que as pessoas esperavam dele, a começar pelo fato de ele não ser mais o rapaz retratado em On the Road, cuja ação transcorrera dez anos antes ( o livro bateu um record de fila  de espera nas editoras: seis anos, do seu término até a saída ).     A vida como marginal inédito se adequava mais a ele, como escritor famoso, era obrigado a conviver com uma sociedade com o qual pouco tinha a ver.     Havia dois níveis de incompreensão que o incomodavam e confundiam.     Um, a mitificação do escritor-viajante, esquecendo que, ao mesmo tempo, ele também escrevera sua obra evocativa ( o " ciclo de Lowell " ), e mais seus poemas ( México City Blues e San Francisco blues ), além de um texto budista, The Scripture of Golden Eternity.      Outro, a crítica contra a sua obra: como On the Road teve uma acolhida triunfante e tornou-se best-seller, os resenhistas e críticos sentiram-se na obrigação de abordar com especial rigor suas obras seguintes, apontando seus defeitos, mostrando como eram inferiores, mais fraca que as primeiras.     Ou seja, ele estava entre dois fogos: o da criação de um mito,  Kerouac, por alguns , e a tentativa de destruição desse mito, por outros.      Seu último livro da fase da estrada, Big Sur ( 1961 ), é o relato dessa crise.    Mais uma vez ele tenta isolar-se, na casa de praia  de Lawrence Ferlinghetti.     Ao chegar lá, a solidão o incomoda, tem um ataque de delirium tremens, alucinações nas quais combate demônios e o livro termina com a visão de uma cruz aparecendo no oceano, sua reconciliação com o catolicismo.    Mas a crise já vinha de antes.     Sua ida a Tânger e a Europa em 1957 ( relatada em Desolation Angels ) só lhe provoca tédio e sensações de vazio.     Em Dharma Bums, ele tenta mudar o estilo, passando a usar frases curtas, com mais ênfase no relato dos acontecimentos e menos no seu fluxo de consciência ( por isso Dharma é o livro preferido de muitos, é sua obra mais " fácil ", linear e discursiva ).     Suas viagens depois de 56 são uma busca cada vez mais errática, cujos objetivos vão se distanciando.

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